Guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Conflitos e mais conflitos. Vemos nas telas planas das tevês, na Internet e nas redes sociais tudo em alta resolução. Não dá para falar de questões atuais sem pensar no risco que estamos sofrendo, na loucura dos tempos atuais e de uma polarização que nos coloca no mapa da lista de animais em extinção. Ver, em tempo real e na palma da nossa mão, tanque e fuzis de alta precisão ameaçando qualquer resquício de civilidade entre as nações e povos é entender que estamos rasgando o discurso de evolução da espécie, colocando no lugar de utopia a tão falada paz mundial.
É tão latente ver inocentes entre escombros, pessoas sem casa tentando vagar para além dos locais de conflito, refugiados, apátridas, miseráveis, vítimas das nossas torpezas conflituosas. Além de ser rentável para os fabricantes de armas, a guerra produz a incapacidade de sentir a nossa humanidade, de não nos colocarmos no lugar do outro, independente de tudo, e de vê-lo com um olhar fraternal. É inadmissível ver líderes mundiais terceirizando problemas entre resquícios do que foi, um dia, uma escola ou um hospital. Vemos, todos os dias, as cenas tristes e lamentáveis que uma guerra produz. Tá estampado nas telas planas de tantas polegadas e em diversos megapixels. Imaginamos que seja o resultado imediato dos nossos conflitos, da capacidade que está em não sabermos conviver com as diferenças e com o diferente que está no outro.
Desse modo, podemos entender que os conflitos internos amplificam o que pode ser visto externamente. Está na capacidade de não aceitar uma realidade, seja ela diversa ou não, no mundo. Entre a cura para algo que nunca existiu, com efeito de corrigir o incorrigível, pessoas tiram de si mesmas a possibilidade de viver, por acreditar que falharam em algo que não pode mudar. A falta de autoaceitação e acolhimento, vista em certas atitudes como a da influencer bolsonarista Karol Eller e de outros tantos como Rodrigo Amendoim é resquício de um mundo em conflito com as pressões externas, que exige de nós uma representação do que não somos ou desejamos ser. Isso causa dor e sacrifício que pode levar, em alguns casos, a medidas mais drásticas como o suicídio.
Do interno ao externo, vivemos em constantes conflitos, ora por não nos aceitarmos e assim ao outro, como não aceitar a realidade que se mostra de todas as formas. Do conflito que antecede as batalhas da vida está a busca desenfreada para cancelar, apagar o outro ou solucionar problemas. O que sentimos pelo nosso semelhante, por ele fazer uma escolha diferente ou agir de tal forma, reverbera no mundo e cria eco nos corações. Dos tanques e armas que destroem povos as lutas com o ego, ainda haverão vários conflitos, pois isso parte de um olhar mais subjetivo interferindo no destino das coisas. E aí não existem diferenças entre o que acontece em um front de guerra e as nossas sensações. A contemporaneidade e suas maravilhas amplificaram tudo isso e deixaram o ser humano com vários questionamentos, dúvidas e falsas certezas sobre a sua existência.