Mais uma semana que o brasileiro não tem paz: o ministério da saúde, sem ministro há 2 meses, está sendo representado por um secretário grosseiro; a nomeação do ministro da educação que defendeu a “vara da disciplina”; o presidente positivo para COVID-19, publicitando um tratamento contrário a todo manifesto científico, e ainda em Brasília, somos surpreendidos com o enredo cinematográfico: um suposto traficante de animais (leia-se aqui estudante) é picado por uma serpente peçonhenta exótica, a já famosa #najadeBSB, cujo esgota o estoque NACIONAL de soro antiofídico para espécie.

É Brasil, você realmente não é para amadores, e nem para cidadãos! Afinal a mediocridade define o humano por ele ser engenheiro civil ou ter doutorado em medicina veterinária.

Em convergência a isso, você lembra da política do “deixa o rebanho passar” dita pelo ministro Salles em abril? Ela está diretamente correlacionada à retaliação de dirigentes nacionais e internacionais ao fundo de proteção a Amazônia, aos 70 mil brasileiros mortos pela pandemia (no texto da semana passada eram 60 mil) e com uma infeliz e obscura espiral da morte ativamente mantida por NÓS.

Sim…NÓS, você não leu errado! Infelizmente. Afinal, fazemos parte de um sistema, de um todo, de um planeta, estamos todos e tudo interligados (não de forma “literal” como em Avatar, mas tão simbólico quanto). Acredite: política, COVID-19 e tráfico de animais estão completamente relacionados com sua saúde.

Para entender, permita-se a luz da dúvida: Você realmente já pensou sobre os efeitos do desmatamento para avanço do agronegócio?  Que a retirada da vegetação natural pode deteriorar rios, afetar o clima e eliminar a casa de muitas espécies animais, comprometendo a saúde ambiental? Que essas espécies selvagens buscarão novos ambientes para viver, aproximando-se de animais domésticos, criados em propriedade rurais, ou que animais silvestres traficados poderiam introduzir doenças em novas moradas? E que essa proximidade pode facilitar o “salto” de microrganismos de uma espécie para outra, o que desequilibra a saúde animal? E que assim esta enfermidade, acometendo animais domésticos, pode ter como agente um microrganismo zoonótico, ou seja com potencial a coabitar e infectar humanos, gerando impacto global na saúde humana? E para completar, que a facilidade de locomoção entre países e a manutenção das desigualdades sociais podem agravar a ampla disseminação dessa doença? Releia do final para o começo e perceba que é um ciclo.

É aqui que COVID-19 (e outras enfermidades) manda lembranças e gera uma provocação: se temos tantas saúdes, por que não conseguimos controlar efetivamente e universalmente doenças já existentes ou prever/evitar o surgimento de novas? Como resposta, precisamos articular essas saúdes e pensar sobre a lógica da Saúde Única.

One Health, ou Saúde Única, é uma iniciativa que visa uma prática profissional com visão ampla e conectada de saberes para projetar e implementar programas, políticas, leis e pesquisas, para alcançarmos melhores resultados no campo da saúde planetária. Essa perspectiva inclui temas como doenças zoonóticas, segurança alimentar, ecotoxicidade e outros. Que fique claro que não apresentamos a Saúde Única como uma solução milagrosa para problemas, mas como uma prática viável de troca constante e cooperação entre os campos do saber. Isto aproxima profissionais de áreas distintas, como médicos veterinários, médicos, sanitaristas, biólogos, agrônomos, zootecnistas, ambientalistas, economistas, antropólogos e você, para juntos pensarmos em ações efetivas localmente e globalmente.

Pareceu algo distante de você, co-habitante do planeta azul? Não é! Saúde Única deve estar presente desde a escolha do nosso alimento até a forma que descartamos nosso lixo. Precisamos que todos nós olhemos para o horizonte, e não para o umbigo! Então, concorde, não existe a nossa saúde, existe a saúde de um planeta, porque para que estejamos saudáveis, animais e ambiente também precisam estar saudáveis. Parafraseando Gregório Duvivier nesta semana, mas com inserção de uma licença poética: nossa vida depende de cuidado. Você está disposto a cuidar de mim do planeta?”

Te convidamos a pensar sobre essas questões, e deve ser no agora! Alias, você já deve ter feito isto de forma suave, ao dançar o xote de Luiz Gonzaga, que desde 1989 versa sobre a nossa morte na morte do planeta:

“Não posso respirar, não posso mais nadar

A terra tá morrendo, não dá mais pra plantar

Se planta não nasce se nasce não dá

Até pinga da boa é difícil de encontrar

Cadê a flor que estava ali?

Poluição comeu.

E o peixe que é do mar?

Poluição comeu

E o verde onde que está?

Poluição comeu

Nem o Chico Mendes sobreviveu”

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