Situação permite uma reflexão sobre que tipo de sociedade queremos em um “novo normal”

De acordo com os dados divulgados pelo consórcio dos principais veículos de imprensa, o país já passou a barreira dos 50000 mortos no último sábado (20). Levando em conta que já temos 1 milhão de casos, é possível considerar que o Brasil já está atravessando a curva do gráfico e, segundo a flexibilização decretada em algumas capitais, a situação pode ainda piorar até meados de julho, caso haja coerência com as previsões dos analistas de saúde pública.

O que nos levou até esse número considerável foram diversos fatores. O país adotou uma política descoordenada, destoante entre estados, municípios e governo federal para o enfrentamento a pandemia. O país não aprendeu com os exemplos adotados na China, na Itália e na Espanha e muito menos aderiu a medidas preventivas,em sua totalidade, que foram colocadas em prática por países como Alemanha, Noruega, Argentina e Nova Zelândia, nações que estão tendo êxito no combate a COVID 19.

Além do mais, a crise política e as investidas do atual governante contra a quarentena desviaram o foco do que era necessário, deixando a deriva as autoridades dos estados e municípios, que, dentro das limitações, estão, de fato, adotando políticas preventivas. O desdém com a grave situação foi assimilado por boa parte da população, que acabou ignorando o alto número de mortes, e transformou o discurso da “Gripezinha”, “Resfriadinho” e do “E daí?” em aglomerações nas orlas, calçadões e locais particulares, tornando distante o planejamento para um “novo normal”.

Mas, será que estamos preparados para encarar um novo normal, em meio a ameaça de uma segunda onda da epidemia???

Como é esse “novo normal”???

Um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade, Ailton Krenak, deixou claro que o ser humano é um principal causador desta situação caótica. Em uma entrevista para o jornal “O Globo”, concedida no mês de abril, o ambientalista mostrou que quem não aceita entender a escassez, decorrente da exploração indevida de de recursos naturais, como causa da pandemia,certamente não estará preparado para viver um estado de “nova normalidade”.

Além do mais, Krenak afirma que após o declínio do contágio vai ser impossível voltar ao que era antes. Para ele, voltar àquele “velho normal” seria como abraçar a ideia de que a Terra é plana. Mais claro e cristalino, é possível concordar com o nosso nobre pensador de origem indígena quando coloca que este período de isolamento seria apropriado para “aprender com o que está acontecendo”. Infelizmente, parece que não aprendemos até então.

E por que não aprendemos??? Talvez seja por perceber que a população brasileira não entendeu (ou sequer se predispôs a entender) que o “ficar em casa” é essencial não apenas para conter o avanço da pandemia, mas também evitar o risco de colapso no Sistema de Saúde para que TODOS sejam atendidos. E na falta de entendimento, as pessoas “não se tocaram” que o coletivo, nesse momento, é mais importante do que a satisfação das necessidades pessoais, usando do negacionismo para fugir desta grande responsabilidade, incentivadas, claro, pelo atual presidente.

Em um dito “novo normal”,acredita-se que aglomerações em lugares públicos como shopping centers,supermercados e locais de entretenimento será uma raridade,bem como a questão do consumo exacerbado e irracional. A abertura “equivocada’ dos shoppings em algumas cidades diz muito sobre o que ainda somos e o que não pertencerá mais em nós daqui para frente, assim como nos mostra que, para além do aumento no número de pessoas contaminadas, somos um retrato de um momento tóxico no que diz respeito às formas de consumir e ao lazer.

Um milhão no mundo

Na última sexta-feira (19), atingimos a triste marca de 1 milhão de infectados pelo Novo Coronavírus,além das subnotificações que ampliam, de forma assustadora,esse número.Isso nos dá impressão de que a indiferença, ou a ignorância, sobre a realidade oculta as histórias contidas nos corpos velados sem cerimônias dignas. Mais ainda, a crise política e a politização da pandemia contribuíram para chegar neste lamentável índice em três meses, expondo ao mundo as vísceras sociais de um país erguido sobre as bases de um sistema predatório e perverso com índios,africanos e,até mesmo, com os imigrantes que chegaram para povoar o país ao sul.

Nem mesmo as prisões de Sara Winter e de Fabricio Queiroz escondem as nossas maiores vergonhas em meio a um mar de corpos que vemos diariamente traduzido em números e mais números que vai muito além das vidas que o atual presidente queria tirar. Isto posto, verifica-se que essa pandemia iniciará uma era de transformações no âmbito ético, no que diz respeito a consciência de coletividade que nunca tivemos, devido a formação desigual da nossa sociedade.

Se os números apresentados no decorrer deste texto não te assustam , ou sensibilizam, é por que ainda está sentindo os efeito de uma sociedade negacionista e ignorante.

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