Desde o início da quarentena imposta ao mundo pela Organização Mundial de Saúde, (OMS), a ciência tem medido esforços para além dos seus limites na pesquisa e produção de vacinas e antivirais. Foram quatro meses acompanhando uma corrida desenfreada, entre estudos e testes, para ver quem produz a primeira vacina, algo que teremos como uma realidade, quiçá, no final do ano. Ainda, para nós, é uma grande expectativa, mas não é tudo.

Logo após o mundo científico receber as boas notícias sobre os testes com a vacina produzida pela Universidade de Oxford, o diretor do programa de emergências da OMS, Mike Ryan,amenizou a euforia do mundo acadêmico com a boa nova. Apesar de comemorar os avanços nas pesquisas, Ryan informou que ainda não há nada certo de termos uma vacina antes de 2021. Até lá, conviveremos com a realidade de um esforço coletivo contínuo em dar tempo para que a própria ciência lance algo mais concreto e seguro que visa imunizar a população mundial.

Por enquanto, o que a OMS recomenda é que mantenhamos os hábitos de higiene e a política de isolamento social, exitosa,momentaneamente, em alguns países.É o que temos para hoje, até o final do ano.

Corridas, batalhas e tretas – Um Vale Tudo Científico

Os esforços da ciência tem despertado uma plêiade de interesses de todas as matizes.Assim como os centros de pesquisa, nunca os laboratórios correram tanto, bem como as grandes potências mundiais como os Estados Unidos, que acabaram de comprar vários lotes da vacina que será produzida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech, desembolsando a “bagatela” de US$1,95 bilhão de dólares por 100 milhões de doses. Uma prova dos efeitos desesperadores provocados pela COVID 19.

Durante o período da contaminação,esse vale-tudo científico foi além. Antes de torrar dinheiro em algo que ainda é incerto, os Estados Unidos viram a Rússia garantir que a sua vacina está pronta, prometendo a disponibilidade em setembro. Os russos estudam elevar a produção para até 50 milhões no final do ano. Diante do anúncio, o Reino Unido, juntamente com os EUA e o Canadá,denunciaram hackers russos de roubarem dados relacionados às vacinas,apontando o grupo Cozy Bear de agir a mando dos serviços de inteligência da ex-república soviética. Uma situação digna do mais alto clima de polaridade já visto nos tempos da Guerra Fria.

Como se não bastasse isso, os Estados Unidos também acusaram a China de roubar informações sobre projetos de vacinas contra a COVID 19, violando,assim, a propriedade intelectual, agindo, de acordo com os norte-americanos, no intuito de ter ganhos pessoais, ajudando também o governo chinês. Vale lembrar que o gigante asiático lidera essa corrida, até então desleal, com três candidatas, uma delas está na fase final de testes.

E os dois países, neste imbróglio todo, continuam a dobrar suas apostas quanto ao acesso universal das doses. Será que vamos dar início a mais uma guerra para além dos efeitos na área comercial?

Além da briga diplomática, o representante do laboratório Astrazeneca já assegurou, em audiência no Congresso Americano na última terça (21), que já está tudo encaminhado para termos uma vacina pronta até setembro, caso tudo ocorra bem nos testes clínicos. A pretensão da empresa farmacêutica é sair na frente das concorrentes Johnson & Johnson e Pfizer, tanto na eficiência dos testes,quanto no número de doses.

Desde já, diante dos fatos apresentados, o vale tudo pela ciência, desde a descoberta até a produção das doses medicamentosas, já mostra o empenho em solucionar a pandemia. Mesmo com a vacina produzida em larga escala (ou não), o Coronavírus ainda vai circular na sociedade, na falta de condições higiênicas e de saneamento básico que acomete, em sua totalidade, as populações que moram em áreas carentes.

E a ciência avança

Para além de todo o esforço e o interesse dos grandes laboratórios,com relação as patentes, podemos verificar o quanto a ciência avançou e como a questão da pandemia impulsionou este avanço a passos largos. Achamos o tratamento para a cura da AIDS e de outras doenças, bem como avançamos em pesquisa e extensão para entender o código genético da COVID 19. Uma vacina que levaria, mais ou menos, um período de 10 anos para ser descoberta, pode ser produzida em até um ano graças ao esforço conjunto da comunidade acadêmica na área de saúde.

De pesquisadores a médicos, que estão atuando na linha de frente,nunca vimos um movimento tão grande de estudos e ações. A ciência foi, por muito tempo, pautada com destaque nos jornais da grande mídia e em muitos minutos, até mesmo por conta das incertezas que rondam as mutações,a cura e a origem da pandemia.

Com a COVID 19 e por conta dela, a ciência avançou e a tendência é de um grande progresso, que não só implicará na comunidade científica, mas no bem-estar da população mundial futuramente.Para isso acontecer, os grandes laboratórios devem deixar de lado a política de interesses na busca pela produção da vacina,bem como os países e organizações no que diz respeito ao acesso universal das doses. A expressão “esforço coletivo” deve reger as ações de ambos os atores, não só na busca de respostas concretas, mas sim na execução delas.

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