Na última segunda-feira (30), em uma coletiva, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Thedros Adanom Ghebreyesus, em um tom pessimista, afirmou que ainda viveremos em quadro muito pior da pandemia do Coronavirus, seis meses após o primeiro caso descoberto na China. Desta forma, o representante destacou também a falta de sintonia entre países e gestões como a causa principal do caos que ainda está por vir. Ainda na coletiva, Thedros cobrou dos governos sobre a aplicação de políticas corretas para testagem e rastreamento de casos.
Além disso, o representante da OMS falou dos países que tiveram êxitos em suas ações,mas deixou claro que a pandemia continua acelerando por falta de consonância e esforço coletivo em comum,mesmo com as medidas bem sucedidas em alguns lugares do planeta. Vale lembrar que,desde o aparecimento do primeiro foco, já contabilizamos 10 milhões de casos e meio milhão de mortos. Estados Unidos,Brasil,Reino Unido e Índia são,em parte, os maiores responsáveis pelo alto índice entre mortos e infectados no mundo até então.
A questão do Brasil
A fala de Thedros diz muito sobre a questão do Brasil na pandemia e nos esforços ( ou na falta deles) para lidar com o problema. O que foi colocado em pauta na coletiva é o reflexo do discurso adotado pelo executivo federal, estados e municípios no enfrentamento da COVID 19 no país desde os primeiros casos registrados no final de fevereiro. De lá para cá,já temos mais de 1 milhão de casos e mais de 60 mil brasileiros acometidos pela doença,números que traduzem a preocupação da OMS na falta de consonância das políticas que são adotadas ou até mesmo na falta delas.
Nestes tempos, onde estamos a mercê dos medos de contrair a doença e/ou ficar desempregado e/ou sem perspectivas de país, vimos uma série de desentendimentos e a falta de um plano nacional para o enfrentamento do Novo Coronavírus,uma vez que o governo federal, juntamente com grandes empresários de setores não tão importantes, resolveram colocar a economia em detrimento da questão sanitária, que acomete, sobretudo, os grotões mais carentes do país em toda a sua extensão territorial, isso sem contar as inumeras brigas com os estados e municípios nos primeiros meses.
Neste ínterim, o país ficou a deriva de qualquer ação implementada no mundo e corre na contramão do que a OMS adota no que diz respeito a política de testagem, uma vez que o Brasil é um dos países que pouco testa seus habitantes,mesmo com os esforços limitados de estados e municípios na execução das ações de enfrentamento. Estes, como podem e dentro do que podem, estão agindo e salvando vidas.
Além disso, a crise política, que também respingou no Ministério da Saúde, contribuiu bastante para a falta de uma política de saúde concreta e coesa. O troca-troca de ministros na pasta, aliado ao desdém do presidente quanto ao aumento de casos dia após dia, contribuiu para que, em quatro meses,chegássemos ao primeiro milhão de casos e ao segundo lugar neste triste ranking.
O Brasil lá fora
Aliado a ineficiência e as manobras para camuflar a real situação da pandemia, o Brasil conseguiu destruir a sua tão elogiada política externa. Nunca o país teve uma imagem tão delicada no exterior em tão pouco tempo. Por conta de sucessivos fatos a respeito da politização da COVID 19 envolvendo dois ex-ministros da saúde, governadores,prefeitos e parlamentares,o presidente da república, por meio de seus ministros (Relações Exteriores e Educação) dá mostras claras de como desmantelar as relações externas quer seja no modo declaratório ou esnobando um caso grave de saúde pública ou até mesmo relacionado a questões ambientais.
Termos como “Vírus Chinês”, “gripezinha”, “resfriadinho”, “e daí?” ou “passar a boiada”, ditos por Bolsonaro e pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é um claro reflexo de um país que se isola no mundo, preferindo a subalternidade e a vilania nas ações importantes. Isso contribui para a ruptura de acordos com parceiros importantes como a China ou a União Europeia, no que diz respeito ao livre comércio e circulação de pessoas. Ao abrir suas fronteiras para estimular o turismo na temporada de verão, a UE excluiu o Brasil da lista de países com turistas aptos a entrar nas nações que integram o bloco. O critério que foi utilizado, de forma lógica e coerente, é a falta de contenção do Coronavírus. Para um país que, fracassou na adoção de políticas de enfrentamento, a emissão de viajantes seria um contrassenso completo.
Para dar mostras deste processo de desmantelamento, os grandes escândalos envolvendo o presidente da república, seus amigos,aliados e familiares,assim como os ataques a democracia, insuflados pelo atual governante e promovidos por grupos extremistas de direita, também dão um indicativo de que o país é uma outra ilha em meio ao mar das relações externas. É a pá de cal da desconfiança que, certamente, vai afetar a nossa economia, que sofre com a retirada de dólares entre outros investimentos importantes. Com isso, o real se desvaloriza cada vez mais ( Vale lembrar que a moeda é uma das mais desvalorizadas do mundo em 2020), perdendo força no mercado internacional.
Todos estes fatores contribuem para um país isolado, sem perspectivas e no fundo do poço, que passou ( e ainda passa) por turbulências políticas e instabilidades governamentais. O Brasil, antes aclamado como mediador de conflitos e principal liderança nas questões mundiais, hoje é visto como pária do mundo. Se o atual presidente seguisse a cartilha da OMS no enfrentamento de uma questão sanitária grave e não politizasse as crises, certamente o país teria aliados importantes e assinaria convênios, tratados e acordos essenciais para a manutenção da economia. Mas não é bem assim que o Bolsonarismo, essa bomba de autodestruição em massa, prega. Seria o fim das nossas relações com outros países? Veremos cenas dos próximos capítulos.