No Brasil de hoje, basta escrever uma carta e conseguir que a sociedade civil, os intelectuais e as entidades de classe assinem para rechaçar qualquer ameaça autoritária advinda do atual presidente da república, que,volta e meia, avacalha o processo eleitoral.

Entretanto,para além do documento formalizado e lido na última quinta-feira (10) em todo o país, o jogo democrático requer uma postura que fure as bolhas do comodismo político que elegeram Jair Bolsonaro. Quem sugere isso não sou eu, um jornalista enclausurado na minha zona de conforto,mas sim pessoas que possuem o “know-how” de lidar com as massas, como o deputado federal André Janones (AVANTE-MG), que aponta um contato maior com as classes a margem da elite intelectual.

Esses grupos, de acordo com a análise do parlamentar, foram decisivos para despejar votos no atual presidente e serão, em sua maioria, contemplados com as benesses eleitoreiras impetradas pelo Palácio do Planalto. No Twitter, Janones apontou diversos equívocos cometidos por grupos de esquerda que podem, ou não, determinar o resultado favorável a reeleição do ex-capitao do exército.

O deputado, dentro da sua análise, vai além e indica que a verdadeira defesa da democracia extrapola os limites da carta assinada e lida pelos defensores do direto. O gesto democrático deve ultrapassar as paredes da academia e alcançar o dia a dia nos rincões deste país, tomando uma postura mais acessível a aqueles que não tiveram uma experiência acadêmica e foram encantados com o canto eleitoral da sereia bolsonarista por meio do pagamento do auxílio emergencial, complementar ao Auxílio Brasil.

Com isso, Bolsonaro tenta recuperar uma parte daquele eleitorado que o elegeu em 2018 e diminuir a distância para forçar um possível segundo turno com Lula que, na hipótese de alguns analistas, é uma realidade ainda considerável. Em meio a este cenário,na visão do parlamentar mineiro, a esquerda tem que se aproximar de um tom mais populista e ir em busca deste grupo contemplado pelo “paliativo eleitoreiro”. Deste modo, manteria uma base que garantiria a vitória de Lula ainda no primeiro turno.

Não é demais lembrar que, em 2018, diante das mágoas criadas entre o PT, setores da esquerda e lideranças populares que foram favoraveis ao impeachment , Bolsonaro venceu e captou um sentimento superficial de combate a corrupção, acalentado pela utopia criada de um Leviatã ético, representado por um juiz que, por meio da troca de interesses, se tornou ministro da justiça.

Três anos se passaram, e a tentativa de reduzir o fosso eleitoral entre Lula e Bolsonaro tem surtido os primeiros efeitos. Basta olhar as pesquisas desta semana e entender a redução considerável da distância percentual em alguns estados como São Paulo e Minas Gerais.

Diante da análise dos dados obtidos , a campanha de Lula considerou que está na hora de focar na economia, em questões práticas que permeiam o cotidiano da dona de casa, do trabalhador autônomo e daqueles que trabalham nas ruas,de sol a sol. A estes,o debate político deve alcançar os seus anseios democráticos como o acesso a uma alimentação digna, uma saúde de qualidade e livre de qualquer burocracia, pontos estes que viraram promessas simplistas no QG bolsonarista.

Portanto, as letras da carta lida nos espaços acadêmicos devem ser acessiveis a quem está a margem do debate político e é necessário fazer eco ao discurso de defesa da democracia, garantindo assim que os princípios dentro das linhas constitucionais, tão ameaçadas pelo afã autoritário. André Janones nos traz um Brasil pragmático, que precisa ser ouvido e acalentado, o mesmo país que se beneficiou com os programas sociais dos governos de Lula e Dilma,mas não sabe o que é consciência de classe ou identidade de gênero e vive na utopia particular do que é ética.

É neste país que os ares progressistas devem penetrar, sem mágoa ou arrogância,pois o processo eleitoral deste ano põem em dúvida um cenário planejado e construído desde 2013.

 

 

 

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