O Brasil precisa defender as suas instituições de um projeto nocivo às futuras gerações.

Gustavo Medeiros
Jornalista DRT-BA 3890

O Brasil passou a última sexta-feira (22) rompendo a barreira dos 20 000 mortos pelo Novo Coronavírus, chegando ao segundo lugar da lista de países com mais casos da doença. Enquanto isso, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Celso de Mello, liberou vídeos da última reunião ministerial que aconteceu no dia 22 de abril no Palácio da Alvorada. Naquele dia, cerca de 2000 brasileiros morreram por conta da COVID 19.

Em meio as expectativas sobre o que foi tratado, a parte mais consciente da população ficou atônita com o teor revelado e com os assuntos abordados. De tudo foi falado, menos de políticas para o enfrentamento de uma pandemia que coloca o país no cruel mapa da doença, segundo o gráfico mostrado pelo jornal francês Le Monde. Ameaças e palavrões deram o tom agressivo e “cínico” ao encontro, tudo foi completamente escancarado em horário acessível para a sociedade ver, sem truques de edição, salvo cortes que afetariam as relações diplomáticas com outras nações como a China, por exemplo.

Interessante é que, no day afther da divulgação ( ou seja, no sábado-23) , nenhum ministro do STF se dignou a tomar medidas imediatas e enérgicas aos entes que proferiram as ameaças, que foram graves e ferem a Lei de Segurança Nacional entre outros artigos da Constituição de 1988. Falas atribuídas aos ministros Abraham Weintraub, Ricardo Salles, Damares Alves e Paulo Guedes dão conta do perigo que se abate no Brasil atualmente. Prisão de ministros do Supremo, de governadores e prefeitos, afrouxamento de regras nas questões ambientais e a privatização de uma empresa pública, no caso o Banco do Brasil, mostra um projeto nocivo de país orquestrado por uma quadrilha de gangsters, que tem como líder o senhor Jair Bolsonaro.

Bolsonaro,por sua vez, ameaçou armar e promover a ditadura,fez pouco caso da pandemia e afirmou posições arbitrárias para proteger “amigos e parentes”, algo que já foi ventilado durante os dias que antecederam a divulgação. Este fato culminou no desligamento de Sergio Moro do Ministério da Justiça e de Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro, do comando da Polícia Federal (PF). Segundo matéria publicada na Folha de São Paulo, o atual presidente já havia tomado essa decisão antes mesmo de torná-la oficial.

O vídeo não trouxe muitas novidades bombásticas, para quem acompanha os bastidores da política, mas deixou a mensagem de um projeto criminoso de destruição do país, das instituições e das leis em detrimento do culto ao personalismo, que é indiferente aos olhos de quem está a margem do poder, sendo vítima deste sistema perverso que intensifica a eugenia do início da república no Brasil.

Bolsonaro é o resultado de todo o processo que ocasionou na sua eleição. Por R$ 0,20 estamos perdendo de vista conquistas democráticas, fruto de embates políticos que culminaram em um período de 30 anos, sendo os últimos marcados por uma estabilidade política e econômica significativas. A partir daí, vivenciamos processos político-eleitorais violentos e agressivos, o mais recente elegeu o atual presidente. O brasileiro se indignou a toa, gastou energia com questões pequenas que nos levaram ao caos, a intolerância, ao agravamento da desigualdade e da discriminação. Do auto dos nossos egos afetados, vivemos tempos difíceis.

É compreensível que, após a divulgação do vídeo, uma boa parcela da sociedade que ainda estava apoiando o presidente, possa se indignar. Entretanto, como visto nas últimas aparições, a reunião ministerial reforça a aliança com o núcleo duro de apoiadores, aqueles 25% ( segundo o resultado da última pesquisa divulgado na última semana) que dão sustentação barulhenta a este governo falido e sem noção da realidade. Em meio a isso, é fato que a missão agora, além das medidas de enfrentamento contra o Novo Coronavírus, se constitui em defender a democracia e a vitalidade das instituições, cobrando medidas proporcionais e urgentes a situação causada, sem cautelas. O Brasil corre o sério risco de ficar isolado em decisões importantes no planeta se continuarmos com este estado de coisas.

 

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