Nas últimas semanas, o poder público (lê-se governo do estado e prefeituras) tem tido diálogos para iniciar a retomada às aulas nas redes de ensino.Em meio ao período eleitoral e ao relaxamento de algumas medidas em detrimento a queda nas taxas da COVID-19, as escolas se preparam, testando alunos e adotando medidas protocolares para manter a segurança de todos os envolvidos da comunidade escolar.
Entretanto, em alguns estados que anteciparam o retorno, o resultado foi negativo. No Amazonas,por exemplo, as instituições de ensino registraram um ligeiro aumento no número de casos entre os profissionais da educação. Em um mês, só em Manaus, foi visto uma alta de 7,6% na taxa de infectados, ou seja, cerca de 342 professores testaram positivo para o novo coronavírus e isso corresponde a 30% do corpo docente na rede pública do estado.
Vale lembrar que, até aquele momento, os números gerais do estado estavam em queda e se suspeitava que havia alcançado a tal falada “imunidade de rebanho”. Mesmo assim, com os casos em alta na rede de ensino manauara, o governador descartou a hipótese de um lockdown na época, o que afetaria a atividade econômica.
Recentemente, em uma escola da rede privada de Belém, as aulas foram suspensas após estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I testarem positivo e medidas alternativas serem tomadas nas classes dos alunos infectados. Desde setembro, quando foi retomado o ensino presencial,cerca de 30 colégios da rede municipal registraram casos de crianças com o novo coronavírus.
Na esteira dos números que vinham da região norte do país, outros estados tomaram medidas cautelares. Desde setembro, o estado de São Paulo retornou às aulas. Inicialmente em caráter parcial, apenas com atividades de educação física e artes ( as ditas extracurriculares). No Rio de Janeiro e do Distrito Federal (DF), o retorno às aulas foi motivo de disputa judicial, que teve o seu desfecho durante esse mês.
Nos estados que retomaram as aulas,interrompidas desde março, o retorno foi tímido e o receio entre pais,professores e alunos ainda persiste. Mesmo com a queda recente nos números, a ameaça de uma segunda onda ainda é uma realidade, uma vez que existe esse risco. Só para citar, boa parte dos países europeus suspenderam o retorno ao ano letivo,após a temporada de férias escolares por conta da nova explosão de casos.
E aqui uma pergunta deve ser feita: Como pensar em voltar as aulas se estamos presenciando o aumento de casos em crianças e adolescentes,bem como uma taxa bem elevada nos leitos de UTIs pediátricos? Já temos uma ocupação de aproximadamente 100% e isso depõe contra o prefeito ACM Neto que,pressionado pelos donos de colégios e outras instituições particulares. está sinalizando pela retomada.
Entretanto, diante das incertezas trazidas pelo período eleitoral, onde as aglomerações, causadas pelas carreatas entre outros atos, se tornaram constantes, é impossível precisar se retomaremos (ou não!!!) o ano letivo ainda este ano. Mas, uma coisa é certa, a tendência é unificar os problemas de 2020 e 2021 em um grande combo escolar. Neste “imbroglio” formado, na expectativas das medidas protocolares, ainda temos uma segunda onda vindo por aí.
Repensar a educação
Para não perder, de vez, o ano letivo em 2020, novos modelos foram pensados e o “tão temido” Homescolling se tornou realidade em boa parte dos lares brasileiros. Vivemos os prós e os contras desta nova ferramenta, alguns se adaptaram e outros ainda sentem as dificuldades neste novo modelo de ensino. Entretanto, o que a pandemia nos revelou, diante da adoção de uma nova metodologia, foi um abismo no que diz respeito ao acesso a tecnologia e ,por consequência, a informação.
No Brasil inteiro, vimos estudantes, que possuem poucas condições de ter um wireless, se esforçarem para estudar em vias públicas, conectados, de forma precária, para ter acesso ao conteúdo ministrado, um retrato dos desafios que serão encontrados para promover uma inclusão escolar ( e tecnológica) através da nova realidade que nos foi apresentada pela pandemia.
Apesar disso, durante estes meses, pouco foi falado sobre inovações na metodologia de ensino. As autoridades escolares e donos de instituições privadas ( aquelas que tem intere$$es neste retorno pouco provável) se ancoram na diminuição no número de casos e na criação de uma vacina como se fossem as balas de prata na solução para um ano letivo dito perdido.
Para além dos protocolos, que tem se apresentado insuficientes em sua totalidade, na maioria dos casos, não há nenhuma política prática imaginável neste sentido e a tendência é de uma transformação radical na instituição escola, desde os conceitos de socialização e de ensino/aprendizagem. Daqui para a frente será difícil repensar a educação sem incluir pessoas por meio da tecnologia e as mudanças vão ter que acontecer, inevitavelmente.
Mais do que qualquer solução a ser tomada e trabalhada por todos os envolvidos no processo educacional, a pandemia nos mostrou que a educação pode ser repensada na vivência do conhecimento e na necessidade do envolvimento direto da família na formação e escolarização dos filhos, coisa rara no tempo corrido dos grandes centros.
Desde já, pensar em um modelo de educação para o pós pandemia vai ser um grande desafio para além dos protocolos formalizados, que estão se mostrando ineficazes, haja visto os exemplos desde o início do segundo semestre deste ano. Para além deste retorno, ainda sobre ares cautelosos, em meio a pandemia que ainda não acabou, o que deve ser revisto são as formas de educar.