Quando fui convidado para escrever expondo minha opinião me deram carta branca. Minha ideia inicial era revezar, ora falar de política, ora economia, livros, etc, etc. Há semanas, por exemplo, meu propósito era discorrer sobre economia fazendo relação com a pandemia, mas decidi isso, caso Jair Messias Bolsonaro não fizesse, durante aqueles dias, mais alguma merda (me perdoem o termo chulo), hipótese em que seria necessário continuar falando sobre política. Como o manancial dele de fazer merda (me perdoem de novo) é inesgotável, a economia vai ter de aguardar mais um pouco.
Há dias, vimos o sujeito pedir que pessoas invadissem hospitais de campanha, hospitais públicos, com o argumento de que era para fiscalizar os gastos públicos. Pronto, não temos mais o “fiscal do Sarney”(1), o gado virou “auditor do TCU”. Mesmo sendo essa a real intenção, o simples(?) incentivo para pessoas adentrarem unidades hospitalares, expondo, e se expondo, a doenças, já é um crime. Vejam que neste momento muitas pessoas acometidas de outras enfermidades estão deixando de procurar a emergência hospitalar com receio de contaminação. A humilde pessoa que está escrevendo o presente texto é uma delas.
Ao nos depararmos com esse convite da “coisa”, e lembrando das cenas em que Bolsonaro participou de manifestações provocando aglomeração, abraçou e foi abraçado (sem qualquer proteção), inclusive carregando crianças, esses dois episódios me lembraram de Jim Jones(2). Alguém vai achar um exagero, que é uma comparação descabida, mas foi o que veio na minha mente. Inclusive fazendo uma pesquisa para este texto encontrei no site da BBC um trecho bem elucidativo a respeito da personalidade de Jim Jones: “…a seita também despertou suspeitas e investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor” (https://www.bbc.com/portuguese/geral-46258859). Esse estilo messiânico e ditatorial lembra alguém?
Claro que os seguidores da Seita SOMOS GADOS DE BOLSONARO não cometem suicídio explícito, mas, sim, o que é chamado de suicídio inconsciente. As situações descritas acima, as aglomerações em torno do presidente e o incentivo à invasão de hospitais, não deixam dúvidas que o gado, mesmo sem saber claramente – até porque os seguidores dessa Seita parece que estão num estado de transe coletivo(3), cometem suicídio inconsciente. Mas minha preocupação não é bem essa, é que nessa sanha de seguirem o líder da seita, o gado acabe contaminando outras pessoas, e o mais grave é que enquanto a febre aftosa, que às vezes acomete o gado, é incomum nos humanos, o mesmo não ocorre com a COVID-19.
Finalizo pedindo licença a Zé Ramalho para retificar a letra de sua música: “Ê, ô, ô, vida de gado. Povo marcado, ê!” Povo infeliz.
Por Ivan Gargur
P.S.: após finalizar o texto localizei na internet o seguinte artigo: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/mundo/64055/revista-dos-eua-compara-bolsonaro-a-jim-jones-autor-do-massacre-de-jonestown , então não sou o primeiro a fazer a relação entre Bolsonaro e Jim Jones, que muitos podem achar exagerada.
(1) Fiscal do Sarney: em 1986 o governo do presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, cujo principal objetivo era conter a inflação, e para tanto estabeleceu um tabelamento de preços; passaram a ser chamadas de “fiscais do Sarney” as pessoas que atenderam o chamado do presidente e passaram a fiscalizar os preços, sendo que a ação mais midiática foi a de um consumidor que fechou um supermercado “em nome do Sarney e do povo brasileiro”.
(2) Pastor norte-americano que fundou uma seita e se instalou na Guiana, provocando em 1978 a morte de mais de 900 pessoas, a imensa maioria por suicídio, sendo considerado o maior suicídio coletivo da história.
(3) Inevitável lembrar da última cena do filme Perfume: https://www.youtube.com/watch?v=xtz6dAjWz3g .