Não era tão comum, nos últimos anos, artistas com grande apelo popular se posicionarem e tomarem partido, declarando o seu apoio ou hipotecando o seu voto para determinado candidato, por mais que certos posicionamentos revelassem mais do que uma declaração pública. Diante do atual cenário, a cantora Anitta jogou no colo do pré-candidato Lula os seus milhares de seguidores, assegurando o seu apoio ao petista nas eleições deste ano.

O assunto deu muito o que falar, nos últimos dias, e abriu um campo de esperanças para definir o pleito logo no primeiro turno para setores progressistas que marcham com o ex-presidente, algo que foi comemorado e rendeu vários memes e postagens do gênero nas redes sociais. A artista declarou o seu apoio em detrimento aos últimos acontecimentos no Brasil envolvendo política e violência.

O que este apoio significa? Acredito que há muito significado neste ato, uma vez que a cantora já vinha procurando nortear o seu engajamento para o campo político desde o inicio da pandemia ao realizar lives com o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) e com a advogada Gabriela Priolli.

Durante este período, a “Poderosa” já demonstrava a sua preocupação com a Amazônia e com as ações sustentáveis, se predispondo a aprende mais sobre temas que envolvem o universo político, levando os seus seguidores a formular inúmeros questionamentos e reflexões, o que não era visto em outros seguimentos mais a esquerda do espectro político.

Entretanto, quando se fala em Anitta, a referencia maior que temos é a da sua atitude em colocar o funk carioca nas paradas de sucesso, tornando-o pop e palatável aos ouvidos de uma certa classe cultural que parou no tempo e se via pouco acostumada aos ventos inovadores que vinham dos morros. Com isso, a cantora de Honório Gurgel, de forma ambiciosa, mudou a pauta das produtoras e gravadoras, tornando-se um fenômeno nacional e internacional, peitando os poderosos que controlam a política e a indústria cultural no país.

Além do mais, a funkeira também abriu vários debates sobre empoderamento feminino e sexualidade, temas delicados que encontraram eco na sociedade, em especial, nos jovens e na população periférica, que emergiu economicamente com os programas sociais implementados nos anos dos governos de Lula. Graças a isso, Anitta, sem se dar conta sobre a política institucional, usou o seu corpo, sua voz e as redes sociais para dar poder a quem não tinha, propondo uma visibilidade para assuntos sensíveis que antes rechaçados pela hipocrisia e pelo machismo.

A frente do seu tempo, em uma live realizada no Instagram com o artista Felipe Ret, Anitta condicionou o seu apoio a Lula e reiterou que o pré-candidato olhasse para a questão da legalização da maconha, que tem no canabidiol a substancia indicada para o tratamento contra a ansiedade e o câncer. Esse debate ainda encontra obstáculos em setores mais conservadores da nossa sociedade e na indústria farmacêutica. Para além do uso, a artista sinaliza uma questão de saúde pública e cientifica.

Talvez o apoio de Anitta para Lula possa não distribuir muitos votos como se pode imaginar, mas este fato, em si, determina uma posição simbólica, uma vez que as redes sociais, ao longo dos últimos anos, se tornou um símbolo de luta hegemônica que determinou na eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Neste terreno, muitos “influencers” ligados ao então deputado conduziram o debate na nova ágora política. Nos dias de hoje, além da artista carioca, outras personalidades como Iza, Ludmilla, Pablo Vittar , os ex-bbbs Artur Pícoli, Juliette, Gil do Vigor e a influencer Deolane Bezerra entre outros, que usam a internet para conduzir as suas pautas, já assumiram que vão apoiar o candidato do PT a presidência da República.

Dessa forma, acuado por este apoio, e em meio aos últimos fatos envolvendo nadegas e artistas que recebem dinheiro desviado, a expectativa é que o atual presidente da república possa fazer uma tentativa de força nas redes, aglutinando, a sua volta, pautas moralistas e, em meio a isso, artistas e lideranças neopetencostais, entre outros simpatizantes fora do resquício da tão sonhada fama. É por meio destes grupos que o atual chefe do executivo encontrou apoio maciço para disseminar fake news e usar a tal “mamadeira de ‘piroca'” para vencer as eleições.

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