A cada dia que passa, o ódio dá o tom das relações em nossa sociedade e determinam o acirramento da polarização política. Diversos foram mortos por intolerância na política, de Marielle Franco a Dom Phillips. Foi dado ao brasileiro médio a permissão para matar quem pensa ou age diferente de quem está no poder. Essas tentativas de passar por cima de qualquer vestígio de democracia acende o pisca alerta de todos e nos deixa em atenção sobre qualquer tipo de atitude estranha ou ofensiva que é praticada no calor da ira fascistoide que paira sobre país.
A morte do dirigente petista Marcelo Aloisio Arruda, assassinado enquanto comemorava o seu aniversário, deixou as autoridades e pré-candidatos atentos sobre qualquer tipo de ação violenta as vésperas de mais um período eleitoral. O ato praticado pelo policial bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho foi motivo de repulsa entre pessoas públicas e personalidades, dado a gravidade do acontecimento, que não pode ser considerado como fato isolado diante das ultimas noticias que saíram na imprensa.
Bombas de fezes e urinas em praça pública, tiros contra a redação de um jornal, carros de juízes atingidos por ovos, drone que joga jatos de agrotóxico em militantes entre outros casos que acontecem por aí não podem ser atos normalizados ou isolados. Vivemos tempos onde o ódio se cristalizou, saiu do armário e contaminou a ágora pública das discussões e da convivência no nosso país. Desde 2018 vivemos pisando em ovos, olhando para os lados e se esquivando nas ruas, nas redes e nas praças. Está difícil viver se você é o alvo, por ser e pensar diferente. O Brasil se tornou tóxico, inabitável e impraticável.
As vésperas do período eleitoral não dá para ver os fatos que se seguem como algo isolado. É uma sequência de ações que tem como gatilho o que é dito pela pessoa pública mais importante deste país. Quer queira, quer não, ele é o exemplo, suas atitudes, o que pensa e o que faz são importantes e refletem o espelho de uma nação.
Se levarmos em conta os estudos do filosofo francês Roland Barthes sobre os mitos, Bolsonaro é isso aí, um mito de fato, a utopia de um país que tem a visão distorcida de si mesmo e que assumiu a sua violência, escondida no submundo das origens, ainda no período da colônia. E quem se inspira nesta figura errante não tem vergonha de assumir os discursos que já arrebatou diversas vidas para a morte, seja ela física ou simbólica. Ao longo do tempo, o atual presidente calcificou o ódio como bandeira e trouxe pra si a missão de tornar o Brasil um país ingovernável pelo caos, seja ele institucional ou social.
E o resultado está aí, no nosso cotidiano, quando crianças vêem pais assassinarem suas companheiras de forma brutal, ou então nas salas de cirurgia, onde a ética médica é rasgada no ato de sedar gestantes e estupra-las. Essas aberrações já existiam,mas veio a tona, sem nenhum pudor e com doses de perversidade, quando Jair Bolsonaro e os seus iguais assumiram o poder no país. A partir daí, o estado de covardia foi generalizado e o Brasil se perdeu de vez nesta onda reacionária, surfada por uma sucia de frustrados .
Infelizmente, este é o Brasil dos últimos quatro anos, amargo e ressentido, que põe para fora as suas amarguras em forma de agressão e violências, sejam elas físicas ou psicológicas. Não dá para aceitar calado que o país caia no fosso da anti civilização, ladeado com regimes autoritários, que usam o ódio também como expediente de poder.
O próximo governante que assumir terá a grande responsabilidade de não apenas salvar a economia e estruturar o país, tornando-o viável para todos, mas sim lavar a essência republicana do respeito com várias latas de creolina e garrafas de alvejante. Enquanto isso não acontece, o ódio continua on nas casas, nas ruas e nas redes, dando as cartas e armando os “cidadãos de bem”.