Pelé se aposentou, exatamente, 4 dias antes do meu nascimento. Não tive a oportunidade de vê-lo em campo contra meu Bahia. Não posso contar sobre o nosso título de 1959 sobre o Santos dele, com a experiência das arquibancadas que tanto gosto de fazer. Nem tampouco, narrar pra vocês a emoção da Fonte Nova ao ver o gigantesco Nildo Birro-Doido tirar de carrinho, o que seria o gol 1000 do Atleta do Século, diante do meu Bahia. Então, me junto aos mais novos para falar sobre o que vi nas telas e aprendi nos livros. Pelé é muito mais que um Rei do futebol.
Suas pernas dançavam sobre a bola. Tabelando com canela de adversários, driblando grandes nomes do futebol como se fossem crianças. Pelé foi além do “ser jogador”. Era um atleta diante de boleiros mortais. Seus números são surpreendentes até para os dias de hoje. E isso fica mais fácil de constatar por um detalhe: nenhum esportista da década de 1960, de nenhum esporte, pode ser comparado com os atletas de hoje. Afinal, os esportes evoluíram, as técnicas foram apuradas, o preparo físico dos jogadores, as formas de treinamento… exceto, Pelé.
Ninguém compara a Maria Esther Bueno com a Serena Williams. Ou se o gigante Kareem Abdul-Jabbar é melhor que o LeBron James. Ou ainda, num caso bem mais recente, se o Royce Gracie venceria o Francis Ngannou, no MMA. Porque os esportes evoluem. Os atletas, e a ciência esportiva, também
Porém, com Pelé, é diferente. E a cada geração surge um candidato a ser o Novo Pelé. E foi assim com Beckenbauer, Cruijff, Di Stefano, Platini, Zico, Paolo Rossi, Maradona, Romário, Zidane, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaucho, Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappe, e agora, Messi de novo. Não há, nunca houve, e não haverá outro Rei.
Pelé criou as jogadas que nós vemos hoje nos campos da Europa e do mundo (como mostra o vídeo). Pelé ensinou nos EUA o que era o soccer. O menino de Três Corações, que treinava fazendo embaixadinhas com mangas, venceu a pobreza, virou craque aos 16 anos, Rei do futebol aos 17 (coroado por ninguém menos que Nelson Rodrigues):
“Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável – a de se sentir Rei, da cabeça aos pés”
Então, quando a Argentina venceu a Copa do Mundo, com a genialidade de Messi, e os “Enzos” começaram a compará-lo ao Rei, ele, mesmo internado no hospital, parabenizou o argentino pelo twitter:
“Hoje o futebol continuou a narrar a sua história, como sempre, de forma apaixonante. @leomessi vencendo sua primeira Copa do Mundo, como era merecido por sua trajetória”
Hoje, diante de sua ida aos céus, Messi apenas comentou de forma burocrática: “descanse em paz, Pelé”.
Pelé fazia gol de direita, de esquerda, de cabeça, de bicicleta, driblando goleiro, de fora da área, de bico, de falta, de pênalti… apanhava como mala velha mas também largava o braço. Pelé foi expulso num jogo, e a torcida expulsou o juiz pra trazer ele de volta. Ele jogou como goleiro em 3 partidas oficiais. Fez gols antológicos em Copas, e ainda, 4 não-gols tão brilhantes quanto. A cabeça perfeita para a defesa histórica do goleiro inglês, Banks. O chute do meio de campo, a devolução de primeira numa saída de bola errada do goleiro, o drible de corpo no goleiro uruguaio.
Pelé não é apenas o Maior Atleta do Século. É o Maior Atleta dos Séculos. E não será superado jamais.
Obrigado, Rei. Por tudo que o senhor deixou de legado para o futebol. Sempre que chamarmos o melhor de um grupo, de O CAMISA 10, será uma homenagem a todo o seu legado.
Edson Arantes do Nascimento deixa o mundo esportivo órfão.
Pelé, não.
Esse é ETERNO!