Seis anos depois, mais de dois mil e duzentos dias. Acharam,enfim, a resposta para a pergunta que não queria calar: “Quem matou e quem mandou matar Marielle Franco?”. A agonia dos familiares da ex-vereadora do PSOL carioca e de seu motorista, Anderson Gomes, acabou aparentemente. A Polícia Federal chegou aos mandantes do crime, que aconteceu no dia 14 de março de 2018. Os nomes do deputado federal Chiquinho Brazão (UNIÃO – RJ) e de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas, já eram dados como certo, com base nos depoimentos dados por Ronnie Lessa, um dos executores dos disparos desferidos. A surpresa, para muitos, é o nome do ex-chefe da Polícia Civil, o delegado Rivaldo Barbosa, apontado também como mentor do ocorrido. Vale lembrar que Barbosa foi nomeado pelo interventor a época, o General Braga Neto ( ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro), para o cargo na véspera do assassinato.

O fato exposto mostra a ligação promiscua entre grupos paramilitares, denominado “Milicias”, e o poder, como estas dadas “facções” surgem no seio dos órgãos públicos de segurança, atuando de forma arbitrária e ilegal em algumas comunidades, oferecendo serviços básicos e loteando terrenos em áreas onde ex-policiais e ex-servidores das forças armadas atuam.

Após idas e vindas, assim como desgastes e trocas de equipes investigativas, a federalização do caso, ocorrida no atual governo, acelerou os destinos das investigações, chegando no cérebro de um sistema que visa eliminar corpos divergentes com o sistema, como o de Marielle. Atrelado a isso, a desfaçatez de Rivaldo, diante dos meandros que ocorreram antes da federalização, demonstra como os órgãos de segurança abrigaram verdadeiras máquinas de aniquilar pessoas que se posicionam contra um modus operandi vigente, uma vez que a vereadora estava atuando nas denúncias sobre uma possivel grilagem de terra em algumas comunidades da Zona Oeste do Rio, que envolvia diretamente os irmãos Brazão.

Desta forma, não resta mais dúvidas a respeito da atuação dos milicianos e como eles conquistaram notoriedade nas comunidades, por serem uma força paralela ao estado, inicialmente, frente ao tráfico de drogas. Ao longo do tempo a ação paramilitar conquistava as áreas dominadas pelos chefes e se tornava, desta forma, mais um poder paralelo, pautado no assistencialismo e na justiçaria, se tornando, na maioria das vezes, o proprio estado, que fiscaliza e pune com o mesmo rigor dos chefes do trafico. Com o poder local nas mãos, as milicias miraram na política e conseguiram alcançar prestigio e influência,elegendo parlamentares e ajudando, diretamente, na eleição de um presidente da república em 2018.

Com os grupos milicianos formando seu estado paralelo, dominando e sendo os únicos e principais prestadores de serviços essenciais,vários esquemas de corrupção foram formados, ou seja, o que já era ruim, virou o pior do “mais do mesmo”. De extorsão a execução, as facções, constituídas por ex-militares e militares da ativa, se tornaram mais uma dor de cabeça para os poderes públicos. Nesta guerra paralela, gerada pela omissão do estado, quem sofre é a população das comunidades, que vive entre as balas desferidas pelo tráfico e pela mão de ferro da mafia paramilitar.

A ação das milicias corroeu as instituições públicas por dentro e colaborou para que a impunidade seja uma regra no modus operandi das cidades. Era contra isso que Marielle batia de frente e foi por isso que teve a sua vida ceifada. As balas de Roni Lessa, matador de aluguel e aspirante a miliciano, calaram a voz que incomodou os anseios dos poderosos de uma mafia a moda carioca.

Foram seis anos sem respostas concretas, com muitas idas e vindas,voltas e reviravoltas, malabarismos por parte de quem estava a frente das investigações e, sob qualquer suspeita, foi pego. Com a justiça cumprindo o seu papel, chegando nos mandantes e idealizadores do crime, finalmente, Marielle agora pode descansar em paz.

 

 

 

 

 

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