Na edição do Big Brother Brasil deste ano, a Rede Globo colocou, no elenco, diversos personagens negros em suas opções sexuais, sendo este um pequeno retrato de um país ainda conservador em algumas pautas, sobretudo as chamadas “ de costume”. Entretanto, nas redes sociais, nos deparamos com um tipo de militância que seleciona as pautas que vai defender, haja vista que a atração global mobiliza torcidas e paixões pelos personagens, comumente chamado de “brothers”.
Dessa forma eu não posso ser racista, mas posso ser etarista e da mesma forma que eu não posso ser homofobico, mas sou capacitista. Este é um exemplo prático de como esta militância seletiva funciona, com base nas nossas interpretações de mundo e nas experiências que temos em relação ao outro. Ainda não vemos o mundo de forma diversa, com cores diversas, preferências, gostos, necessidades diferentes, e assim fazemos os julgamentos, verdadeiras aspas venenosas denominadas “cancelamentos”.
As opiniões que tuitamos, as fotos e vídeos que compõem o feed nas redes são o reflexo do que somos, das bolhas que vivemos e compomos por conta da proteção, do medo e da ameaça que representamos ao outro no mundo. Fazendo uma breve análise, somos seletivos sim e usamos a nossa seletividade no sentido de colocar o outro a margem nos nossos julgamentos, é assim que funciona a ideia de “cancelar ”, fazer com o direito de existir do outro, em suas particularidades, seja diminuída.
E quando a militância do outro não importa? E quando julgamos que a nossa dor é mais importante que a do outro? No reality show mais visto da emissora carioca vimos, de forma latente, como essas questões são suscitadas nas redes sociais, onde não temos a dimensão das existências. Mesmo com a baixa audiência registrada na reta final, fruto da insatisfação dos tais “lacradores das redes”, a lição que fica é que devemos ter uma visão ampla do exercício de empatia e isso só será possível se considerar que não estamos sozinhos no mundo e pertencemos a uma coletividade diversa.