O ataque a uma creche em Blumenau, somada a outros atos de violência, vistos nos últimos dias, diz muito sobre como a nossa sociedade se moldou a narrativa da contemporaneidade. Vivemos dias assustadores e nos assustamos com o que vemos nas telas planas da tevê e nos “feeds” das redes sociais com as noticias de assaltos,mortes,atentados, assédios e outras ações que atentam a vida das pessoas e outros seres.
Desta forma, assistimos assustados, acuados, com medo. Entretanto, não refletimos sobre os nossos atos e como eles podem contribuir com a situação. A verdade é que a violência está enraizada no seio da sociedade, pois usamos ela como escopo para que a justiça seja feita,para subjugar, fazer cumprir a lei e até mesmo como reação à algo que não agrada. A violência é, infelizmente, a droga de uma sociedade doente, que ainda encontra, em suas raízes primitivas, a solução, a panaceia, para outros atos violentos. É como se atear gasolina no fogo resolvesse o problema do incêndio.
E não pensem a violência somente como aquela que vemos nos assaltos a mão armada, nos atentados e na guerra ao tráfico de drogas. Ela está em nós mesmos, em atos extremos, e, até mesmo, sutilmente, em situações que nos põem em posição de superioridade, nas decisões políticas incorretas, nas pequenas e grandes corrupções, no desrespeito às leis e direitos que as ditas minorias possuem. Até mesmo na auto exposição absurda e no linchamento virtual das redes sociais podemos ver algo violento.
As atitudes violentas também estão nas nossas frustrações, nos sentimentos não compreendidos em ações mal interpretadas. Por pequenas coisas, as mais banais, agimos de forma equivocada, como se resolvêssemos o problema do pedaço de pizza ou do desrespeito à fila para abastecer o carro.
Para muitos, vivemos os efeitos da pós-pandemia, para outros a normalidade do que é visto nos noticialescos do final da tarde. Na verdade, são as duas coisas e não é normal. Não dá para naturalizar este estado de coisas, normalizar vidas perdidas ou afetadas e achar que “são coisas da vida”. Não dá para entender a morte como uma normalidade cotidiana.
É difícil admitir, mesmo com o ex-presidente ( aquele que corroborava com tudo isso) fora do poder, que somos violentos, subjugamos, julgamos, agimos, de forma primitiva, e isso é possível encontrar, a olhos vistos, nos dois espectros políticos em que nos vemos divididos atualmente. Tanto a direita, quanto a esquerda, a violência reside e persiste na forma de lacração, de ganhar o outro pela razão, como se houvesse uma visão de mundo superior.
Enfim, no mundo de hoje, onde delegamos ao outro ( e ao acaso) as violências nossas de cada dia, é necessário refletir sobre os nossos atos. É notório que vivemos conflitos internos e que estamos sendo colocados contra a parede a medida que vemos a realidade que nos é posta pelos meios de comunicação. A violência não está no outro somente e nem veio de graça aos nossos lares. Ela é uma soma do que somos e fala muito sobre a sociedade que foi constituida ao longo dos tempos. As situações que ocorreram, nos últimos dias, são meros convites a reflexão. O que vimos fala muito sobre o que estamos sentindo em tempos pós-modernos e da necessidade de mudar para vivermos um novo tempo. É sobre nós mesmos.