Em um país que conta com mais de 160 mil mortos, a pandemia da COVID 19 está se tornando o principal cabo eleitoral. Digo isso pelas pesquisas de opinião que saíram nas últimas semanas. E entre a taxa de falecimentos e infectados pelo novo coronavírus, perdeu quem ousou desafiar a ciência e pôr em cheque ( e em descrédito) as pesquisas e o trabalho de autoridades na área da saúde. Esses, que negaram a qualquer custo a realidade, realmente, sofreram (e sofrerão) derrotas retumbantes, do tamanho das declarações proferidas pormenorizando a situação.

Alguns países que realizaram pleitos, renovando os cargos eletivos, com lideres que, a primeira vista, trataram a COVID 19 com desdém ou descaso tiveram fracassos nas urnas, sejam eles parciais ou totais. Isso mostra que a população está atenta, mesmo que inerte em suas bolhas de necessidades (aquelas que levam a furar a quarentena), aos discursos e atitudes, o que torna mais complexo qualquer tentativa de interpretação dos desejos e expectativas diante da realidade então assustadora.

E em meio as aglomerações, promessas de campanha e discursos feitos por figuras folclóricas ( aquelas que só aparecem de dois em dois anos), o coronavírus vai escolhendo os seus eleitos, se tornando o grande definidor de disputas nesta eleição tão atípica para os padrões normais.

Verdadeiro derrotado

Diante de imagens e atitudes atabalhoadas, autoritárias e desmedidas pelos discursos inclinados defendendo uma “normalidade”, a pandemia já definiu quem será o principal derrotado nestas eleições, o atual presidente Jair Bolsonaro. Inicialmente discreto e tergiversando, quando indagado sobre apoiar alguém na sucessão municipal, o mandatário acabou definindo os seus apoios nas principais capitais do país, assim como os próprios candidatos, alinhados (direta ou indiretamente) vincularam, como em uma jogada de marketing simbiótica, suas imagems.

O resultado desta estratégia poderá sair das urnas como fracassada, o que aponta grande parte das pesquisas de opinião feitas até a última semana. Nas 26 capitais onde ocorrerá a sucessão municipal, o bolsonarismo só tem chances (reais ou não) em três e em boa parte dos principais redutos eleitorais, muitos dos seus apoiadores diretos têm índices pífios ou, até mesmo, insuficientes. Quem pegou carona na onda conservadora, que legitimou a extrema direita no poder, está tomando caldo, repetindo o discurso desdenhoso e negacionista frente a um estado absurdo e contra números não há argumentos.

Entretanto, mesmo com candidatos alinhados a uma onda conservadora bolsonarista em cada estado, ainda existe espaço para uma força de centro-direita (até então derrotada em 2018) ressurgir descolada (desde o início da pandemia no país) da imagem “queimada” do atual presidente, independente de qualquer influência indireta.

COVID-19- Cabo eleitoral?

Anos após a onda conservadora que elegeu líderes populistas e autoritários sob a influência das redes sociais, a pandemia veio pôr o mundo no eixo. Caro leitor, se você pensa que estou delirando, pode tirar o cavalinho da chuva ou deduzir o contrário. Em meio a atitude permissiva frente aos estragos que a COVID-19 causou na normalidade, a política vai sofrer transformações conceituais, como tudo que foi afetado durante estes tempos em que nós estamos quarentenados em nossas casas. A extrema direita, por mais que tenha sido uma bomba letal, foi golpeada em cheio no seu ímpeto de domínio das massas, apesar de ter ditado o ritmo da polarização eleitoral em um intenso cabo de guerra político.

Diante disso, está muito claro que a COVID estabeleceu os perdedores nas eleições municipais, ou seja, aqueles que estão nos extremos do cabo de guerra se apegando a imagens de ídolos e mitos. Essa vai ser a eleição do bom senso que projetará, claramente, um cenário sóbrio para o pleito de 2022.

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