Após as apurações dos votos, as urnas revelaram um cenário sóbrio, diferente do que foi visto com perplexidade em 2018. O eleitor, em meio a pandemia ( que se configurou como grande cabo eleitoral), votou sob a influência dos últimos acontecimentos, sob a tensão de um país polarizado, convulsionado por uma forte crise econômica, política e social. E se a vida política começa nas cidades, então elas projetam o retrato do que é desejado para um país. Dessa forma, surge uma saída, que pode ser dita como equilibrada, um cenário diverso do que foi visto nos últimos anos.
Neste breve parecer, é possível constatar que, em meio aos extremos dessa guerra ideológica e influenciado pelos números “estratosféricos” da COVID ( Em todas as áreas), o cidadão brasileiro está construindo um caminho ao centro, tentando achar saídas equilibradas e, por suposições, sensatas. As escolhas mostram que a sociedade começa a acordar da bipolaridade política e quem sai derrotado, acabou dobrando a aposta no caos, ou seja, o bolsonarismo.
Mais razão e menos emoção
Os pleitos de 2016 e 2018 nos mostrou um país em convulsão, que acumulou, no seu seio, as cicatrizes das manifestações de 2013, de 2015, bem como o impeachment de Dilma, que foi patrocinado por Michel Temer e conduzida por Eduardo CUnha. Tudo isso, somado aos equívocos de uma esquerda “mordida” com o processo, nos levou a eleição do atual presidente em 2018. De lá para cá, o estado brasileiro, aos poucos, vem sendo desmantelado e quem está segurando as pontas do texto constitucional (com todos os vícios possíveis) é o Poder Judiciário. Aliado a isso, vivemos a constância de um estado cínico, repressor e autoritário, que faz uso da violência para a manutenção de uma ordem social, delimitando as fronteiras da desigualdade, que, até então, tem se mostrado crescente.
Dessa vez, este retrospecto, aliado a questão sanitária, pautou o cansaço de um modelo polarizado, inspirado em jogos de estratégia. E entre os escombros da civilização e da barbárie, renasce a esperança de um retorno a normalidade política e este cenário é desolador para quem se alimenta do caos como um parasita em meio a um corpo em decomposição. Pensando nisso, é possível entender que a derrota, mesmo que parcial, do modelo político dito por “Bolsonarismo” é uma questão de tempo e ele parece que já começou. Em meio a um cenário incipiente, um alívio desesperador a espera de uma normalidade política. A população quer resultados e apresenta um recorte mais pragmático da vida política no país.
Caminho para o Centro
O Centrão, grupo de partidos que compõem o fisiologismo político sem uma definição ideológica, saiu fortalecido independente de qualquer resultado que sair das urnas no 2º Turno. Além disso, o DEM aumentou o número de prefeituras e também se fortaleceu. Com isso, podemos indicar este retorno a uma normalidade política como um fator determinante para a disputa de 2022 nos estados e o quanto isso pode implicar nas formações de alianças. É possível dizer que os governadores pretendentes a uma reeleição ou uma candidatura ao senado devem recorrer, mais do que sempre, as coligações com este grupo de agremiações políticas que barganham conchavos, poderes e privilégios em troca de apoio.
Mesmo caminhando para o centro, a cabeça do eleitorado funcionou de forma pragmática, mas fora de um padrão visto nas últimas eleições, marcadas pela exacerbação do ódio, da paixão desmedida e do obscurantismo. Considerando fatores influenciadores como a COVID 19, a sobriedade foi determinante para uma retomada a normalidade democrática. A pandemia colocou as pessoas em casa e elas assistiram um louco “tocar o terror” em um país asfixiado pelo alto número de casos e mortes que pipocavam das UTI’s e se tornavam estatísticas em valas comuns. A derrota de Trump, a inspiração despótica do atual presidente nos Estados Unidos, também contribuiu de forma sistemática para este movimento nas urnas.
Desta forma, a negligência, as negociatas a luz da mídia e o autoritarismo frente a uma grande crise se tornaram ingredientes para que o brasileiro, em frente a sua tevê de tela plana paga em “suaves” prestações, direcionou o caminho do voto em direção ao centro. Mas será, em 2022, este o rumo definitivo para voltarmos a ser uma democracia plena? Será que agonizaremos, por mais quatro anos, a pólvora e a saliva de uma república atabalhoada? Assim veremos as consequências dos destinos democráticos deste país.