No início deste mês, o mundo assistiu esperançoso à primeira pessoa vacinada contra a COVID-19. Trata-se da senhora Margaret Keenan, de 90 anos, que recebeu a dose do imunizante fabricado pela Pfizer em parceria com a BioNTech. Este foi um passo importante em direção a imunização coletiva contra a pandemia do novo coronavírus. Após este fato, outros países começaram as tratativas para a produção e a vacinação em massa, desejando entrar em 2021 com boas perspectivas para a tão esperada cura.

Aqui no Brasil, a disputa entre a vacina e a autorização ganhou cunho político. Enquanto vemos a segunda onda alcançar quase todos os estados na alta de mortos e infectados, as discussões travadas o governador João Dória e o ministro Eduardo Pazuello mostram que a solução para o enfrentamento contra a pandemia tomou um viés polítiqueiro, com interesses de lado a lado, do particular ao burocrático.Como se não bastasse uma vacina sem autorização da ANVISA ( no caso a CoronaVAC de Dória), o atual presidente da república loteou o órgão, que virou uma autarquia cheia de militares. Essa foi uma forma encontrada para burocratizar o processo de viabilização da vacina,dificultando a tomada de um plano eficaz envolvendo estados e municípios.

Neste momento, enquanto uns festejam a cura e se preparam para o processo de imunização, o Brasil “cria caso” em torno da importância e da emergência de um plano nacional de vacinação, uma vez que o problema foi empurrado nas costas dos prefeitos e governadores em uma atitude irresponsável que gerou mais de 180 mil mortos. Enquanto se morre nas UTIs e se infecta nas ruas, coube aos estados o esforço maior de comprar seringas e agulhas. Na Bahia,por exemplo, o governador Rui Costa já autorizou a importância de R$ 5 milhões para a compra dos insumos. Em uma outra linha de frente, deputados querem que a ANVISA conceda a aprovação de vacinas que foram aprovadas por outros órgãos internacionais.

E nesse recorte de euforia e caos, vivemos, ou melhor, sobrevivemos. De camarote, sob os efeitos de um isolamento social “capenga”, o Brasil vai romper o ano salvando o forte rescaldo de uma pandemia que vai deixar sérias marcas, sequelas que ficarão na recente história do país.

Alta Pressão

Nos estados, os números empurram os governadores a pressionarem o ministro da saúde a adotar medidas emergenciais que possam garantir que a vacina seja produzida e distribuída o mais breve possível.Dessa forma, com as UTIs cheias e as mortes crescendo em todo o país,um processo de autorização, que seria o mais demorado diante de tudo o que foi visto na obtenção das vacinas, é o momento mais aguardado. Vivenciamos três anos, entre estudos,pesquisas,experimentações, em um, processo este que correu contra o tempo e os números que, a cada dia, aumentavam.

Atualmente, com a vacina como realidade, o lugar comum agora é a expectativa. Um governo eleito na base do ódio, com instintos reacionários servindo como tripé de apoio, certamente não solucionará, com eficiência, a questão da doença, uma vez que contribui com a politicagem e a democracia. Em nove meses de pandemia, confinados em nossas casas, vimos um governante agir por meio dos seus próprios princípios e,ainda assim, de forma medíocre e autoritária, foi omisso com tantas mortes e, ainda por cima, empurrou o problema nas costas dos governadores.

Ao apostar na postura de sabotar a vacina, utilizando a ANVISA como um instrumento burocrático, o atual presidente cria um ambiente de incertezas para uma população que está ansiosa para receber as duas doses de qualquer vacina. Enquanto isso, de forma pública e costumeira, ele solta as fake news como cascas de banana no chão,ampliando o número de pessoas descrentes de que a vacinação possa ser essencial para criar um mecanismo imunológico contra a COVID.

Saindo Atrás

Muitos países já deram início ao plano de vacinação. Nossos vizinhos se planejaram e vão terminar o ano imunizando a sua população. Diferente da expectativa criada nos países do continente que vão começar a vacinação, temos um presidente que age em cima do caos e, por meio dele, ganha holofotes em meio a tantas mortes causadas, capitalizando, em um viés político, o interesse pela cura. Com isso, o país, antes referência em planos de imunização em massa, retarda os seus passos e vê países como Arabia Saudita e Catar passarem a frente neste sentido.

A verdade é que Bolsonaro nunca esteve aí para a pandemia e, desde o início, fez de tudo para “melar” com os esforços de um país amedrontado pela doença, minando assim toda a ação de solidariedade e esperança pelo seu exemplo. Sem máscara ( porque, para ele, é “coisa de viado”), provocando aglomerações por onde passava ( com seu “histórico de atleta) e com muitas mentiras, o atual presidente joga o país no isolamento e a própria sorte, visando apenas os seus fins eleitoreiros. Entretanto, com o fim do auxílio emergencial e o aumento desta segunda onda, o prazo de validade da sua “alta” ( e relativa) taxa de popularidade está vencendo. Teremos muito miseráveis e uma data incerta para dar início a tão esperada vacinação.

Começaremos 2021 experimentando a insensatez de um populismo de fachada.

 

 

 

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