Talvez, desde 1958, ano de surgimento da bossa nova, movimento musical liderado pelo baiano, radicado no Rio de Janeiro, João Gilberto, um objeto mobiliário não tenha ganhado as manchetes dos jornais nacionais como nesse final de semana.
O tal mobiliário, coadjuvante em apresentações musicais mundo afora no passado, contribuiu indiretamente para propagar um movimento musical marcado pela discrição, simplicidade e intimismo. Características em conformidade ao que o seu criador, João Gilberto, acreditava ir ao encontro daquele Brasil que surgia com a industrialização alavancada com a construção de Brasília que seria fundada poucos anos mais tarde, em 1960.
Esta mesma Brasília nos presenteou com pensadores como Renato Russo, nascido no Rio de Janeiro em 1960, coincidentemente ano de fundação da nova capital nacional, e radicado desde os 13 anos nesta, onde criou a banda Aborto Elétrico e anos depois liderou aquela que seria, para mim, a maior banda de rock do cenário nacional, Legião Urbana.
Em 1987, ano da instalação da assembleia constituinte ( em Brasília), nasceu ali pertinho, em Goiânia, um pseudo coach, empresário e político que juntamente a um apresentador de televisão (também ascendente a político) e a um certo banquinho lotam as manchetes dos jornais desta segunda-feira.
Desta vez, o móvel não fora usado de forma elegante e discreta, como pelo fundador da bossa nova, mas como resposta violenta à provocação do pseudo político que tem como maior mérito a criação e o desenvolvimento de um “método que busca a inteligência emocional e prosperidade”, forma pela qual justifica a sua fortuna.
Se não está fácil para nenhum brasileiro enfrentar além da crise ambiental, a ética e política, ser banquinho no Brasil não fica atrás.
Mas se pelo menos for fabricado por certas marcas nacionais que se autodefinem capazes de unir referências culturais aos grandes designers transformando a arte e o manufaturado em ferramenta de inclusão social (porém cobrando o “equivalente a um rim” pelo mais singelo produto) ao menos resistirá aos usos ordinários. Ao arrasta arrasta das crianças, mas também às retiradas abruptas dos palcos da vida e talvez, quiçá, à fúria dos homens héteros provocados naquilo que tem de mais
“valioso” sua masculinidade tóxica.
Graças a Deus, a recém auto declarada mulher preta de direita estava de pé quando fez sua declaração, mas fico por aqui porque esse não é meu lugar de fala.