Um tema triste e doloroso, foi o assassinato, na presença das 3 filhas, de Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, no Rio de Janeiro. Não pensem que estou sendo insensível com a dor da família, não é isso, mas, quando vejo a reação de órgãos do Poder Judiciário, STF, CNJ, MPRJ, fico a pensar: por que existem “mortes” e “mortes”? Pesquisa da USP mostra que, no Brasil, a cada duas horas, uma mulher é vítima de feminicídio. Quando li, em relação ao assassinato da juíza, que “… nos perguntando o que poderíamos ter feito para que esta brasileira Viviane não fosse morta”, “Posso afiançar: esse crime não ficará impune, o que ocorreu nesta quinta-feira na Barra da Tijuca é absolutamente inaceitável”, pensei em como a sociedade, até na hora do óbito, classifica as pessoas em grau diferente de importância, tipo, “cidadão não, engenheiro civil, formado, melhor do que você” (lembram?). Caso o assassinato de Viviane Arronenzi tivesse ocorrido em função do exercício da função de juíza, óbvio que o Estado brasileiro deveria, sim, se pronunciar, mas não foi o caso. Mas também os órgãos de imprensa vão na mesma toada: na TV a matéria foi: “juíza assassinada na frente das filhas”. Se não fosse uma juíza, se fosse uma cidadã, a manchete muito provavelmente seria: “mãe assassinada na frente das filhas”.

E esse fato me trouxe à mente o acidente que vitimou o piloto Ayrton Senna, no dia 1º de maio de 1994. Na véspera um outro piloto, Roland Ratzenberger, já tinha falecido no mesmo circuito. Pois bem, Pierludovico Ricci*, médico que fez a autópsia nos dois pilotos e ficara indignado com o tratamento diferenciado dado às duas mortes, em aula sobre Ética Médica, declarou: “existe morte tipo A e morte tipo B”. E exortou seus alunos a não diferenciarem ricos e famosos de pobres e desconhecidos.

É o mundo.

* Na época o médico Ricci era também diretor da Escola de Especialidade de Medicina Legal da Universidade de Bolonha.

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