Infelizmente, no Brasil, basta portar vagina, vulva, útero e óvulos para se tornar uma vitima brutal da violência. O aborto, para as mulheres que são alvo de atos sexuais não consentidos ( o famoso estupro), é a saída legal e cabe a justiça como aos órgãos de saúde validar e acompanhar esses procedimentos, auxiliando tanto a vitima, quanto ao feto que não escolheu vir nessas condições. Alias, vale ressaltar que, nos dias de hoje, é inadmissível alijar a mulher de uma escolha própria de não gestar.
Neste sentido, além do caso da garota de 11 anos, que quase foi impossibilitada de realizar o procedimento abortivo, veio a tona a declaração da atriz Klara Castanho que, em um comunicado postado em sua rede social, esclareceu um caso de estupro que vivenciou e tomou conta da internet durante o último final de semana.
No carretel de confusões que a história se tornou, Klara foi violentada várias vezes. Além de sofrer a violência sexual, a atriz teve o seu direito de abortar negado e ainda por cima foi coagida por uma enfermeira, que ameaçou vazar informações sobre o pedido de doação do recém nascido, algo que também é amparado por lei em caso de estupro.
Nessa sequencia absurda de violências, a influencer Antônia Fontenelle e o pseudo-jornalista Leo Dias, em um ato de mero oportunismo, colocaram mais gasolina no incêndio que se tornou a vida de Klara, expondo ainda mais o caso para os devidos julgamentos da opinião pública. No afã da barrigada costumeira, típica do “jornalismo marrom”, o tiro saiu pela culatra e a comoção virou um extenso apoio nacional.
O que se pode tirar deste fato, que envolveu uma jovem figura publica? Dessa loucura toda podemos inferir que houve violações do direito a individualidade, a vida e ao sigilo a dor do outro. O Brasil virou um vale tudo contra todos, onde o respeito vale menos. Toda exposição, não consentida, é crime e mostra muito sobre a falta de caráter de certos profissionais que vivem as custas de noticias que se convertem em julgamentos e likes.
Além da violência e da individualidade vilipendiada, vale entender que a ética profissional foi violada também. Existem limites que circunscrevem qualquer atividade e o que foi feito pela enfermeira e pelos jornalistas não cabem mais nas linhas que margeiam o imperativo ético. O que aconteceu com a atriz Klara Castanho não vale milhões de curtidas ou doses de um moralismo sádico.
Diante de tudo isso, o que é ser mulher em um país onde os casos de estupro são acobertados e o aborto, em caso de um ato sexual não consentido, não pode ser praticado. Infelizmente, no corpo feminino todos os julgamentos são depositados e o que pode e o que não pode é ditado por uma casta de senhores engravatados e senhoras com a bíblia na mão e uma saia longa na cintura. Este Brasil, pantanoso para as mulheres, tem que ser resolvido antes de outubro, na boca do voto.