Mal começou o período eleitoral e a política já antecipou o clima de vale tudo, dando um “teaser” do que se pode esperar daqui para a frente. E neste breve trailler do que ocorreu nos últimos dias, o Brasil viu declarações tensas, por vezes equivocadas, uma saraivada de ataques, bravatas por todos os lados e princípios de atentados, feitos de forma amadora que contou com a fabricação de uma “bomba de fezes”. O que se pode concluir disso tudo é que de tédio, neste ano, o brasileiro não irá passar, pois, diferente de outros períodos similares, a ágora política será movimentada em todas as situações possíveis e imagináveis.
Mas, afinal de contas, o que está em jogo no Brasil das pré-campanhas? Qual é o cenário que analistas, palpiteiros e gente que se acha catedráticos em política não vê ( ou finge que vê)? Temos um país que sente a fome de 33 milhões de cidadãos, muitos deles na risca da insegurança alimentar, assim como o aumento dos preços de produtos que compõem a cesta básica e afeta o bolso do trabalhador, que gasta o que não tem e se endivida com o que tem para poder viver de forma digna em um país tão cruel com a sua força de trabalho.
Para além da guerra no Leste Europeu, que também impacta na oscilação dos valores nas prateleiras, o que se enfrenta, na realidade dura do nosso cotidiano, é a mesquinhez e a intolerância, típicas de governantes que sabotam a economia e jogam contra o país com medidas eleitoreiras que, ao longo dos tempos, se tornaram fracas e desgastantes. Prova disso é a redução do ICMS, que foi proposta pela presidência da república, uma facada no peito do orçamento dos estados, assim como é o reajuste de R$ 600 que será concedido como auxilio emergencial até o mês de novembro.
A bala de prata, dessa vez, é a tal PEC Kamikaze, que concederá benesses a população, aos políticos e suas bases eleitorais as vésperas das eleições, uma tentativa de atenuar a queda do atual presidente nas últimas pesquisas. Dessa forma, a tentativa é diminuir a distancia entre o pré-candidato líder , prova de que o desespero é o combustível deste vale-tudo antecipado.
Com a tentativa de diminuir a distancia de percentual das próximas sondagens, há quem diga que os movimentos feitos pelo presidente da república, no afã de conquistar a tão distante reeleição, são arriscados e não passam de verdadeiras manobras eleitorais que buscam acobertar os escândalos que corroem a governabilidade no país. A medida que as noticias de corrupção chegam em pastas importantes como o Ministério da Educação, o atual governante faz inúmeros sacrifícios para manter uma base frágil e apoios volúveis. Para isso é aberta a torneira do orçamento secreto, aquela vaquinha generosa feita entre os parlamentares do chamado Centrão e paga com o dinheiro do contribuinte.
E nessa roleta russa, a bala certa do revolver sobra para a população, que, infelizmente, está se contentando em se alimentar com as sobras do açougue e com o soro do que sobra da produção de laticinios,vendidos nas caixinhas tetrapak. E neste movimento de pobreza nunca antes visto nos últimos vinte anos, o Brasil se mostra na riqueza de poucos e na pobreza de muitos.
Para finalizar, além da possibilidade de salvar ou afundar de vez a democracia, o que está em jogo é a soberania de um povo, expressa no exercício da cidadania que vai além do voto aplicado na urna. Nunca, na nossa história, cada dia foi tão decisivo como os que se seguem no ano de 2022.