Nas últimas semanas, uma música causou burburinho nas dependências palacianas do poder. Sacudindo os brios dos moradores do Palácio da Alvorada, o hit “Micheque” chegou ao top 50 das mais virais do Spotify e, até então, está entre as seis bem ouvidas da plataforma de streaming. Não contentes com o sucesso estrondoso, a banda Detonautas lançou, recentemente, “Mala Cheia”, um hard core que denuncia o poder obscuro dos líderes neopentecostais.

A cada mês, a banda, dona de hits como “Quando o Sol se pôr” e “Olhos Certos” vem lançando músicas atuais, que retratam temas como Pandemia, Corrupção e Hipocrisia. Foi um salto quântico dado por Tico Santa Cruz, que sempre se posicionou nas redes sociais, mas encontrou motivos de sobra para externar em suas músicas.

De julho para cá foram quatro músicas lançadas e centenas de milhares de visualizações em plataformas de streaming. Muitos podem imaginar que o rock está voltando ao TOP 10 e encontrando terreno fertil para protestar sem as amarras ideológicas lançadas em um país completamente dividido em extremos. E estão certos, talvez este seja o “mapa da mina” para o ritmo que, até pouco tempo, estava descolando do ar politizado dos anos 80 e se refugiava as guitarras dissonantes em baladinhas descompromissadas e com letras que falavam de existencialismo e dores internas.

De carona na atualidade

Talvez a fórmula para o grande número de visualizações das três músicas esteja na atualidade. E é por ela que a inspiração vem, seja em forma de texto ou melodia, atiçam ouvidos e,a partir daí, outros elementos visuais se incorporam, fruto de inspirações como o desenho “South Park”, visto no clipe de “Mala Cheia”. Isso explica o fenômeno visto nos último meses em todos os aplicativos de música. As pessoas precisavam rir da cara de quem protagonizam cenas absurdas e zoar com uma pergunta que não cala sobre os cheques depositados na conta de Michelle Bolsonaro.

Em um contexto tomado pelo luto das mais de 150 mil vidas perdidas, rir e protestar parecem ser, ao mesmo tempo, sinônimos de sobrevivência e preservação da saúde mental em meio ao ambiente sombrio de retrocessos enfrentados por todo nós, cotidianamente. E é com a atualidade que os Detonautas se reinventam enquanto banda e oferecem ao público um rock’n roll repaginado, com a velha essência do movimento punk e antenado com a atualidade que nos afeta, seja na corrupção que saí de um plano micro para as instâncias do poder, ou então na violência que ainda perdura por meio do racismo, do machismo e da tirania contra os movimentos minoritários.

Sanidade

A arte é o único meio que nos mantém conectados com o mundo de uma forma subjetiva por meio das expressões. É por ela que nos expressamos e trazemos múltiplas visões de mundo, interpretando a realidade. A música, por sua vez, mexe com os sentidos e emoções, faz com que abra um campo de reflexões acerca daquilo que vivemos ou sentimos. Portanto, em meio as dores vividas ou sentidas, a arte é uma válvula de escape para a conquista da sanidade e ela é vista, enquanto expressão, nas músicas recentemente lançadas pelo Detonautas. Só temos consciência de que a arte ajuda neste processo de manutenção do equilíbrio quando ela se torna um mecanismo de abstração.

De “Carta ao Futuro” a “Mala Cheia”, podemos comprovar que rir, protestar, chorar e se indignar diante do que acontece ao nosso redor nos faz mais humanos e detentores de saúde mental, capazes de entender a arte como facilitador neste sistema, pois ela explica, por visões subjetivas, uma realidade descrita com “os próprios olhos”.

Pegando carona na atualidade e surfando nas ondas da crítica ao que é visto nesta Saramandaia Real, o Detonautas usa a arte a seu favor, emplacando músicas que trazem recortes fidedignos de uma subjetividade. Do Pop ao protesto, o rock salva e nos torna cidadãos conscientes do mundo que vivemos.

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