Após um ano e dois meses de investigações e depoimentos cruzados, a polícia chegou a conclusão de que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) foi a mandante e mentora da morte do seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Ele foi executado com 30 tiros na garagem de sua casa, em Niterói.Segundo as evidências, dos 55 filhos ( sendo 52 adotados e três biológicos), oito estiveram envolvidos no crime.

Sob o sol e as bençãos de Xangô, que rege impiedosamente este ano, a justiça tirou o véu sacro que a deputada ostentava e revelou uma série de tentativas de matar Anderson, o que vem acontecendo desde 2018. Por meio de uma falsa religiosidade e a fachada filantrópica da adoção, Flordelis conseguiu sustentar a sua imagem e, em nome de Deus, praticou iniquidades que nem o mais pecador dos pecadores poderia imaginar existir. Com isso, e por meio de uma carreira artística no meio gospel,a deputada alçou vôos mais ambiciosos sempre ao lado de Anderson, inicialmente um de seus “filhos” adotivos.

A ambição de Flordelis a levou para a Câmara dos Deputados. Pegando carona na onda conservadora, com direito a Bolsonaro e tudo, a “tal religiosa”se elegeu com quase 200.000 votos, usando como mote a fachada do pseudo cristianismo neopentecostal e da filantropia, sempre ancorada na imagem da mulher caridosa e preocupada com a família (desde que não seja a dela, é claro) e dos mais necessitados.

Desta anatomia hipócrita, usada como bandeira para atingir em cheio o imaginário do brasileiro mediano, Flordelis fez de sua história um trampolim para alçar ao poder. E coube a justiça,por meio das provas e depoimentos dos mais diversos, dissecar uma vida pautada em ambições,interesses,dinheiro,poder e,pasmem,sexo e bebidas. Nem mesmo o maior dos transgressores teria a pecha de colocar, em seu enredo cotidiano, uma casa de swing.

Sexo,dinheiro e ambições

Sob o véu da religiosidade,há muitos pecados e enganos que nem mesmo o mais religioso e fiel a Deus possa imaginar que exista. Sob a figura da serva “cheia dos poderes de Deus”, Flordelis pintou o Diabo. A deputada pesou a mão nas mais altas doses de perversão e promiscuidade entre o marido e seus filhos mais diletos. Tudo isso envolvia a prática da troca de casais, bem como rituais de iniciação sexual entre ela e os “filhos” escolhidos e privilegiados por uma geladeira farta de comida, sem falar no conforto dos aposentos.

Por meio e em nome de Deus, a “nobre senhora” usou da fé cega e do personalismo para alcançar o poder. A sua história, de moça caridosa e filantropa, oriunda da favela do Jacarezinho, rendeu um filme, que pode ser contado por uma versão distópica da realidade que se constitui atualmente, em meio ao parecer dado pelas autoridades policiais. E nesta tábua para se lançar ao poder desmedido, Flordelis chegou no lugar onde queria estar; nos locais de decisão e de influência, com Anderson sempre a tiracolo,administrando todo este surto ambicioso com mãos de ferro.

E aí cabe uma reflexão: Uma pessoa, que põe em sua casa 55 crianças, com o intuito de promover a “responsabilidade social”,pode,sem base moral ( o que é diferente da base religiosa,pois envolve princípios pessoais) e diante do que foi analisado em depoimentos, ter estrutura para se mostrar autêntica,verdadeira ?

O que se coloca aqui, põe em xeque a imagem de uma pessoa que, usando de valores tão caros para construir uma sociedade digna, fez do poder, uma obsessão e aqui não cabe julgar os desejos e perversões que,aliás, é inerente ao ser humano. Deve-se colocar em evidência, por meio dessas linhas, que a hipocrisia impera na mente de quem ostenta da religião como combustível para galgar coisas maiores. Em algum momento caímos na contradição dos personagens que constituímos e foi o que aconteceu com Flordelis.

Daqui para a frente, o que se verá, diante da imagem pública derretida por meio de um crime que chocou o Brasil (mais precisamente o meio evangélico),são cenas lamentáveis de um teatro armado há muitos anos, engendrado por uma mente doentia e obcecada pela ânsia do poder sem limites.

Fachada

Fachada é o que define a vida de Flordelis. Criada em um meio evangélico, a sua vida foi constituída por uma imagem de uma mulher bondosa,caridosa, que usava a sua generosidade como ferramenta atingir o coração do brasileiro. Muita gente comprou a sua história, meios de comunicação a veicularam, de forma sensacionalista, como um exemplo da mãe que nunca foi. Uma imagem construída em meio a pobreza da favela do Jacarezinho e do sonho da promoção social,bem como da religiosidade.

Entretanto, o tempo, sábio, aos poucos foi revelando o intuito, a finalidade de se chegar ao longe de forma escusa e se utilizando do que é valoroso como um anteparo para saltos maiores. O véu sacro da mocinha de olhar humilde e voz suave deu lugar a uma mulher ambiciosa, que usou da filantropia para ter dinheiro,ministério religioso e uma vida estável.

A obsessão do poder subiu a cabeça e se tornou um caminho pavimentado ao longo dos últimos anos. Colocar,dentro de um lar, mais de cinquenta histórias sem vínculos afetivos e com diversos dilemas emocionais é uma utopia,algo sem fundamentação concreta,a escada ideal para galgar passos comprometendo vidas em formação.

Absurdos neopentecostais

Atualmente, assistimos ao teatro dos absurdos,típico dos meios neopentecostais no Brasil e no mundo, onde a fé e o dinheiro dos fiéis banca a luxuosa vida dos pregadores e demais membros. São células de igrejas tradicionais que se tornaram, em grande parte,fontes para lavagem de dinheiro, um meio mais “honroso” para enriquecer de forma ilícita e chegar nos meios políticos com influência e prestígio, usando o sagrado como um escopo para desfrutar do profano.

E devemos creditar o crescimento deste nicho no país a estes movimentos de poder, que usam a fé e a caridade nos meios mais pobres para construir uma imagem ambiciosa e empoderada. E é por meio de gritos,sussurros e lágrimas dos muitos empobrecidos pela vida que pastores,bispos, diáconos e missionários se fazem, enriquecem e galgam espaços na política, usando o nome de Deus em vão. Assim se constituiu Flordelis dentro desses absurdos que são comuns em um movimento que se nutre da Teologia da Prosperidade como forma de se chegar ao Paraíso.

Infelizmente, diferente de homens como Edir,Valdomiro e Silas , ela terá um fim. Poderá perder a imunidade e,por conseguinte o mandato. Por ser mulher em uma sociedade onde o poder é a relacionado ao masculino, cairá,provavelmente, na vala comum do cancelamento,algo que já está acontecendo.

Veremos cenas dos próximos capítulos de um futuro que só a Deus pertence.

 

“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.”

Lucas 12:2

“E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!”

Lucas 17:1

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