Ao olhar a lista de músicas para o Carnaval deste ano, elaborada pela Rede Bahia,me assombrei com o número de composições feitas para lacrar nos aplicativos de vídeos rápidos. Produções feitas sob encomenda, adaptadas para um tipo de público que consome tal conteúdo e que passa longe de qualquer música feita nos anos anteriores. Letras demasiadamente repetitivas,músicas que nem lembram a batida do axé, do ijexá ,do samba reggae ou do legitimo pagode, uma descaracterização do que um dia já foi, de fato, a folia momesca.

Bem verdade que estamos em outros tempos, onde a tecnologia, auxiliada pelos aplicativos de streaming, impulsiona certos tipos de conteúdos comercialmente palataveis e descartáveis. Entretanto a sensação da alegria ” que era eterna em tempos idos” se torna uma tristeza para os saudosos ouvidos. E quem se propõe a fazer “música da Bahia”, com pegada e tempero dos nossos antepassados, é deixado de lado pelos algoritimos. Como se não bastasse isso, artistas e atrações que fazem axé music foram relegados a própria sorte e viraram reféns da falta de organização dos órgãos governamentais, um verdadeiro descaso com a cultura de um povo.

Sem citar nomes, é necessário entender este fenômeno proposto e perceber como isso é nocivo do ponto de vista cultural. Estamos deixando os nossos verdadeiros traços a deriva, suscetíveis ao esquecimento para abraçar um ideal de instantaneidade forçada, que viraliza aos montes em fração de segundos. O nosso verdadeiro Carnaval está ameaçado a não existir mais, fadado a ser pulverizado pelas mãos de quem visa o lucro monetizado pelos acessos e downloads, uma verdadeira operação de guerra para destruir o que temos de melhor a oferecer aos turistas, que visitam a nossa terra em busca de um processo cultural legitimo.

Diante disso, deste longo e tortuoso processo de destruição,por parte de setores comerciais e partes comercialmente interessadas, é necessário revisitar o Carnaval festa que é o retrato do nosso estado de espírito, da alegria de ser e estar, que virou patrimônio e marca registrada da Bahia ao longo do tempo. Rever o que aconteceu é salvar ainda o que resta, do contrário seremos “macetados” em uma “zona de perigo” sem fim.

 

 

 

 

Comentários no facebook