O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”. Nas palavras do grande mestre Ariano Suassuna, me vejo. Um cidadão brasileiro que, em pleno ano de 2020, vê a consolidação de uma conduta de extrema-direita reger os destinos de uma nação. Como se não bastasse apenas o Coronavírus, que afeta e mata milhares de brasileiros, vemos a indiferença ser o mote de uma classe política insensível perante a realidade atual.

Na esperança de um milagre, de uma cura para essa letargia, prefiro encarar a realidade, enquadrada, cada vez mais, pelas câmeras das emissoras de  tevê. A cada dia as nossas mazelas ganham destaque nos telejornais e ocupa o imaginário do brasileiro mediano. É preferível que seja assim, com o país exposto a olho nu, escancarado em seus miasmas adquiridos ao longo do tempo, afinal de contas foram cinco séculos vivenciando os diversos tipos de exploração, violência, humilhação e subjugação.

E nessa catarse o povo brasileiro está sentado em um divã coletivo, vomitando as suas sombras, seja negando a existência de uma pandemia, ou negligenciando nos cuidados para combatê-la. As vezes eu penso que este “jeitinho” de ser é irremediável e só se cura sentido a dor de uma UTI lotada, ou também nas tragédias coletivas que aparecem como fúria da natureza, varrendo sonhos e vidas. O Brasil, em uma visão quase pessimista, merece o ano de 2020 e suas energias. É válido entender que, desta forma, despertaremos de um sono eterno em berço esplêndido.

Um ano que vale por todos

Ser realista esperançoso é ver que o ano de 2020 para o Brasil, por entre linhas mais detalhadas, têm sido de profundo aprendizado. Aprendemos  com a dor de quem sofreu com o racismo, seja em um reality show ou na vida real, lidamos com o machismo tóxico e com a frieza cruel das autoridades diante de um período crítico da  saúde pública. Vemos que,debaixo de uma batina, se desviou milhões e em nome de Deus matamos, segregamos e julgamos criando um mundo surreal, uma família “feliz” com  55 filhos.

De pouquinho em pouquinho, vemos um sistema, até então enraizado, se deteriorar nas telas da tevê. Por ambição, juízes se tornam atores políticos,se elegem e se corrompem.Este ano,também revisitamos o distópico conceito de cidadania, onde só quem ostenta um título ou tem recursos pode ser cidadão melhor do que o outro.Nunca a falta de uma máscara denunciou um desembargador fora da lei.

Entre olhos e ouvidos moucos, estamos aglomerados nas 3 milhões de vítimas e mais de 120 000 mortos. O “tou nem aí” foi o lema daqueles que estão sentindo falta de “tostar” na praia em pleno domingo ensolarado, seja em Villas do Atlântico ou no calçadão de Ipanema. O Brasil virou “persona non grata” pelos seus esforços, ou pela falta deles. Enquanto isso, os paredões, as festas clandestinas, os drive-ins e as aglomerações de pré-campanha dão um tom de um país em convulsão social. Quem foi pego de surpresa pelo diagnóstico da COVID,aprendeu, com raras exceções presidenciais, aquelas  que poderiam ter dado o exemplo. 

Lamentavelmente, vivemos em um país que cancela e lacra para colocar o outro nas cordas da batalha de ideias nas redes sociais. E nesse enredo, com o verniz do realismo fantástico de Dias Gomes e João Ubaldo Ribeiro, o Brasil se torna, a cada dia, uma Saramandaia do mundo real. E, mesmo assim, ainda acredito que dá para ser um realista esperançoso.

Esperança no fim do túnel

Não é com vacina que vamos salvar um ano perdido. Com tantas crises, o Brasil foi empurrado para o fundo do poço e olha que já estamos nele há muito tempo, tateando uma corda para subir. Desde o “Impeachment” de Dilma, ou melhor muito antes, o país está nessa toada sabotada. O povo se sabota e acredita  em carochinhas repaginadas, desde o MBL até a tal da “Mamadeira de Piroca”. Tudo isso nos levou até o fim do fim. 

Quem se divertiu e  chafurdou na fake news, soltando stickers da ex-presidente em posições humilhantes nos grupos de Whats App, ou quebrou a cara ou vai continuar se enganando até quebrar de vez. Para quem acha que a democracia está sucumbindo, ou já sucumbiu com tanta merda produzida “com o Supremo e com tudo”, ela renasce quando as pessoas perceberem o estrago que foi cometido. 

E acredito que esse momento está chegando,pois para tudo há um limite.É só colocar a mão no bolso para ver o caos dos boletos e a perda do poder de consumo com a queda retumbante do PIB. Mesmo assim dá para acreditar que há esperanças,pois,como diria um certo palhaço-deputado ( ou deputado-palhaço); “Pior que tá, não fica.”.

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