Salve Jorge

Vi um dos seus últimos posts, um deles consiste no vídeo falando dos tempos de agora, tempos estes frios, sombrios, que nos cancelou a dignidade de um afeto. Momento em que fomos forçados a ressignificar o que deveríamos ter feito há muito tempo. Tivemos que nos adaptar ao mundo de hoje e enfrentar os homens de agora, suas ambições e seus fascismos escancarados que nos fazem gelar a alma.

Tivemos que nos reinventar na falta dos excessos, excessos de carinhos, de abraços, das palavras afetuosas que nunca foram ditas diariamente. Dentro de nossas casas vivenciamos experiências varias, seja pelo excesso de violência doméstica, que afeta, sobretudo, as mulheres ou pela falta de espaço, privacidade e tempo (mesmo nos home offices da vida). Experimentamos o prazer de estar nos nossos lares, protegidos, e os dissabores das notícias que vemos a cada dia.São tempos em que nos é exigido estar em sociedade, sentir como células o mesmo que a COVID 19 faz quando ataca nosso sistema imunológico.

Meu caro professor, esse ano nos descortinou as mazelas e as tristezas, nos colocando de cara com as reflexões que ainda não fazemos. Temos que tomar várias decisões e uma delas é importante. Será que queremos seguir este novo normal, preconizado na esperança e na expectativa, ou seguir em frente como uma boiada desembestada, caminhando a esmo? Essa mesma esperança, nutrida em seus votos no vídeo que segue viralizando nas redes como canto de despedida, está sendo desperdiçada na corrida desenfreada pela cura, uma vez que a vacina, em si, não só basta para vencer o inimigo comum. Nem saberemos, ao certo, se sairemos melhores, mas sim com cicatrizes das perdas que sofremos. Você,Moraes, Aldir, e tantos outros que são símbolos de uma cultura pulsante, viva e ativa.

Perdemos valores e símbolos, onde a palavra se faz eterna, criativa no seu pulsar. E tu, meu caro “Grande Mestre”, fez dela a sua morada e criação, força e energia radiante que consumou em uma legião de aprovados pelo mundo. Você teve a capacidade de transformar palavra em sonho e dissecar Raul no Ouro de Tolo como um lamento limitante, “diante das cercas embandeiradas que separam quintais”,diante de olhos ansiosos por conhecimento Da massa da mandioca, vimos a origem da palavra e provamos “a dor de um menino acanhado”.

Falando ainda nas origens da palavra, em ti, Lazzo se descobriu Matumbi na pele de um ebano,na alma pura. Essa é a alegria da cidade, sentimento que fez parte de seu processo criativo de usar a palavra como uma energia transformadora que “Só se vê na Bahia”, apenas para citar.

Por Caetano Inacio, por Barbara Bela, por Thiago Dantas e tantos outros filhos do seu manancial de sabedoria, escrevo para falar da falta que fará nesta nação, que é “Toda prosa e poesia.”. Por ser filho dileto da sabedoria, encantou e agora é recebido pelos encantados cantando Caribe,Calibre, Amor, esperando que a humanidade ( se e´que ainda resta algo dela) seja melhor. Melhores seremos com a sua contribuição para o mundo.

Vá na paz, meu caro

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