Muitos aspectos são observados, indexados, medidos, analisados para determinar o nível de competitividade de um país. Na sua maioria, são números bem racionais, índices que determinam com bastante precisão a capacidade de uma nação, no que diz respeito à confiabilidade das suas instituições, sejam elas de caráter financeiro, assim como políticas e institucionais. Geralmente, esses números fazem parte de um ranking que classifica os riscos, oportunidades, debilidades que norteiam investidores, organismos internacionais na hora de tomar decisões quanto a investimentos, empréstimos e até emissão de opinião a respeito desse país.

No Brasil, além de sabermos (mesmo sem acessar nenhum número) que estamos ladeira abaixo no quesito confiança, podemos perceber que existem outros fatores que não entram na contabilização desses índices, mas que tem uma influência muito grande na percepção geral da situação do nosso país. Não há como medir, ao menos a curto/médio prazo, o que se deixa de fazer, em função da situação de caos contínuo em que vivemos. Desde a perda de tempo comentando e acessando notícias de crises disparadas quase que diariamente, assim como a saúde mental das pessoas submetidas a esse turbilhão de fatos e fakes, bem como o quanto deixamos de produzir academicamente, formativamente, no próprio autoconhecimento, são fatores absolutamente imensuráveis.

A exposição contínua à falas, atitudes, ações de governo, do atual presidente da República e de seus asseclas consomem uma energia valiosa de cada pessoa que deixa de realizar mínimas tarefas que somadas, se transformam em uma paralisia mental ou baixa qualidade na suas produções. A ausência de uma paz interna, causada pelo ambiente externo, cheio de intrigas, polarizações inexistentes, divergências entre familiares, amigos, colegas de trabalho, causam uma forte perda de competitividade à longo prazo para qualquer nação. A sensação de que vivemos sentados em uma bomba relógio, em que escutamos diuturnamente o seu tic-tac, causa angústia, falta de esperança, que se convertem em baixa produtividade intelectual, laboral e psíquica.

Assim como tivemos, ao longo da nossa história, quebras da Democracia, a desigualdade social convertida em violência urbana, perseguição a grupos sociais mais vulneráveis, racismo institucionalizado e mais diversas mazelas que se aprofundaram, seguimos colhendo os frutos da ausência de tranquilidade nas nossas mentes e corações, por conta dessa sensação de nadar sempre contra a corrente para minimamente sobrevivermos e termos algum reconhecimento e conforto. Esse motocontínuo que a história do Brasil apresenta a cada geração perdida ou mal aproveitada, essa elite privilegiada que nada faz para que essas mazelas caminhem para a sua erradicação, mantém a nação nesse eterno atraso, como sempre mencionaram pessoas como Darcy Ribeiro e o Educador Paulo Freire.

 

Chegando ao fundo do poço

Não conseguimos, nós próprios, termos confiança nas nossas instituições, imaginem da comunidade internacional. Essa Democracia claudicante, em que o presidente eleito pelo povo apoia manifestações antidemocráticas nas barbas dos Poderes Estabelecidos, que apenas emitem notas de repúdio ou declarações individuais e pessoais dos seus representantes, também causa essa falta de esperança em dias melhores, que se transformam em banhos de água fria diários em que o desânimo da população aumenta a cada demonstração de impotência dessas instituições que deveria zelar, ao menos, pela nossa Constituição duramente escrita, pós anos de chumbo.

Mas, ao que parece, estamos chegando ao fundo poço, onde os diversos fatores históricos, sociais, políticos culminaram nesse momento. Chegamos ao ponto em que estamos tão mal representados, desanimados que pode ser que uma virada de mesa possa vir a acontecer. Nada de revolucionário, mas uma tomada de consciência e separação do joio e do trigo que nos fez perceber as entranhas do preconceito, a ignorância, estupidez, violência que sempre dormiu ao nosso lado. Como se nos encontrássemos acuados em um beco sem saída, em que a única decisão a tomar, seja enfrentar a situação de frente. Começarmos a nos impor e projetar rupturas, mesmo pequenas, mas contínuas que apontem para frente. Quem sabe assim, poderemos nos livrar desse desânimo e conseguirmos ser producentes nas nossas atitudes e ajudarmos coletivamente para que nosso país tome o rumo que sempre foi esperado dele.

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