Um grupo de 38 cientistas de renome mundial, incluindo dois Prêmios Nobel, lançou um alerta urgente sobre um novo risco biotecnológico: as chamadas “bactérias espelho”. Em um artigo publicado na revista Science, os especialistas destacam que, em um futuro próximo, poderemos ser capazes de criar microrganismos capazes de “eliminar a vida na Terra”.
Tudo começa com um simples acidente: um pequeno rasgo despercebido em uma roupa de proteção. Dias depois, um pesquisador adoece. Outro segue o mesmo caminho. Ambos são isolados, mas a infecção se espalha rapidamente. A epidemia começa. Uma bactéria é identificada, mas os médicos não conseguem combatê-la – antibióticos não funcionam e nenhum outro tratamento é eficaz. As primeiras mortes são registradas, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara emergência sanitária global. Logo, não apenas humanos, mas também animais – gado, cães, gatos, aves, anfíbios – começam a sucumbir. O agente infeccioso é encontrado em esgotos, espalhado por insetos que transportam a doença para plantas, solos e outras formas de vida. A crise torna-se sistêmica e global.
Esse cenário catastrófico não é um roteiro de Hollywood, mas um alerta do professor Vaughn Cooper, especialista em biossegurança da Universidade de Pittsburgh, e futuro presidente da Sociedade Americana de Microbiologia. Ele e outros trinta e sete cientistas, incluindo dois Prêmios Nobel, lançaram o alerta na revista Science, em 12 de dezembro de 2024.
O Que São as Bactérias Espelho?
Imagina um mundo onde a vida se comporta de forma espelhada. Onde na Terra todas as proteínas dos seres são formadas apenas por aminoácidos “canhotos”, e os açúcares são “destros”. E se fosse o contrário? Cientistas estão tentando criar seres sintéticos que funcionariam sem precisar inverter os aminoácidos ou os açúcares. Isso parece algo retirado de um livro de Júlio Verne ou um filme de Hollywood, mas eles seriam vistos como formas de vida alienígenas aqui na Terra.
E qual o grande problema? Esses seres poderiam ser imunes ao nosso corpo, seres completamente estranhos às nossas defesas imunológicas. ou a qualquer tipo de medicamento que usamos. Nosso sistema imunológico não os reconheceria e isso faria deles seres imprevisíveis e, num cenário extremo, até letais.
Risco Real ou Ficção Científica?
Até pouco tempo, essa ideia parecia ficção, mas avanços recentes estão tornando o conceito viável. Pesquisadores já conseguiram criar polimerases (enzimas que replicam DNA) na forma “espelho”, um passo crucial para a criação de uma célula espelho funcional. Se essas bactérias escapassem para o ambiente, poderiam se espalhar sem resistência e comprometer cadeias alimentares inteiras.
O Que Podemos Fazer?
Diante dessa potencial ameaça, os cientistas estão pedindo um debate global sobre a regulação dessas pesquisas. Eles alertam que, sem controle adequado, podemos abrir as portas para um perigo biológico sem precedentes.
A biotecnologia avança rapidamente, e com ela vêm novos desafios éticos e de segurança. Regular a criação de formas de vida artificiais pode ser crucial para evitar um desastre global.
Enfim…
Como se não bastasse o avanço do neofascismo, as guerras, os vírus, a fome e o apocalipse climático, agora temos mais um motivo para preocupação: as bactérias espelho. Num mundo já à beira do caos, a última coisa que precisamos é de um inimigo microscópico que nossas defesas naturais sequer conseguem reconhecer. Se a ciência pode dar vida a algo tão alienígena, talvez a maior questão seja: estamos preparados para enfrentar as consequências?
Baseado no texto de Nathaniel Herzberg e David Larousserie, publicado no Le Monde:
Des scientifiques appellent à mettre en débat la recherche sur les bactéries miroirs, susceptibles d’« éliminer la vie sur Terre »