“Tornei-me pró-socialista mais por desgosto com a maneira como os setores mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos e negligenciados do que devido a qualquer admiração teórica por uma sociedade planificada” (George Orwell)
Do desPresidente e da desPessoa
Uma amiga se referiu a Bolsonaro como o desPresidente. Isso me fez lembrar do livro 1984, e a desPessoa. Escrito por George Orwell* em 1949, relata uma sociedade praticamente sem qualquer privacidade.
Todos são dominados pelo Grande Irmão. Lá em Oceânia (sim, a grafia é assim mesmo), por qualquer deslize (sob a ótica da Polícia das Ideais) a pessoa é “sumida”, “vaporizada”, mas não apenas no presente, também no passado. Tudo é reescrito, dão fim a todo e qualquer documento de identificação, em qualquer fotografia a imagem é adulterada, ou seja, ela desaparece não só no presente, mas também no passado, é como se nunca tivesse existido. Ela some de todo e qualquer registro. Todas as referências a essa pessoa são apagadas, e ela passa a ser uma desPessoa. Se não existiu no passado, não existe no presente, e óbvio então que não existirá no futuro. Essa é, resumidamente, a desPessoa de Orwell. Infelizmente não é possível transformar o desPresidente numa desPessoa, mas VAI PASSAR, quando, não sei, mas os dois vírus VÃO PASSAR.
*Pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em Motihari, na Índia Britânica, em 25 de junho de 1903, e faleceu em 21 de janeiro de 1950. Entre outros livros escreveu também A Revolução dos Bichos (nota: no original em inglês o nome do livro é Fazenda dos Animais, algum tradutor bastante criativo incluiu o “revolução”).
O pum da vaca
Ao ler uma matéria na revista Carta Capital nº 1107, intitulada O pum da palhaça. Política cultural: a melancólica demissão de Regina Duarte expõe o desprezo de Bolsonaro pela cultura e pela compostura, não sei bem o motivo mas me lembrei de matérias que tratam do Pum da vaca*. Por favor, nenhuma comparação de Regina Duarte com a vaca, nem da vaca com Regina Duarte, foi apenas uma lembrança, só isso, apenas uma lembrança. E já que me lembrei da Viúva Porcina, e independentemente das diferenças ideológicas, tenho que reconhecer que ela é uma excelente atriz, a prova disso está naquela cena com o capitão dela – que ela namorou, noivou, casou, mas não consumou o casamento -, em que ela tentava aparentar satisfação por ter sido substituída do time principal sem nunca ter integrado o time principal (confira no link).
A terra plana
Terminei de ler o livro A Bola não entra por um acaso, do CEO do Manchester City e ex-vice-presidente do Barcelona, Ferran Soriano. Vou transcrever, com alguns excertos meu, uma pequena parte do capítulo Inovação: a ciência e a arte (págs. 180/1): “Também é preciso saber que [Cristóvão] Colombo era cartógrafo, desenhava mapas-múndi, e neste trabalho, superando a carta plana, tinha desenhado a Terra em forma de esfera,… Se Colombo tivesse conseguido fazer uma sofisticada investigação de mercado, uma pesquisa entre a população europeia da época [século XV], provavelmente teria descoberto que 98 cento dos entrevistados pensavam que a Terra era plana”. Alguém avisa a esse senhor que ainda hoje, [século XXI] determinadas pessoas, num determinado país, ainda acreditam que a terra é plana.
Vão passar, os dois vírus vão passar, apesar de você, vão passar
Enquanto escrevia as linhas acima tocava no rádio a música Apesar de Você, do genial Chico Buarque, e o pensamento me levou para outra música dele, Vai passar.