O Brasil vive o drama da devastação de um estado. E se o resto do país não se importou quando um terço da capital de Alagoas afundou, agora não dá pra evitar a abordagem sobre a devastação do Rio Grande do Sul. O saldo disso tudo está nos milhões de desabrigados, famílias inteiras destroçadas, bombeiros obrigados a dar aos pais a opção de salvar eles ou os seus filhos. Os gaúchos estão sofrendo com falta de luz, racionamento de água, saques em lojas, linchamento de saqueadores, ameaças a socorristas e até ataques a barcos de resgate da Polícia.
Enquanto isso, o governador vai preparando seu book com tema “catástrofe ambiental”, como um influencer de redes sociais, de coletinho da Defesa Civil e tudo. E sabe o que mais irrita? Isso não é, nem de longe, a pior ação de um governante daquele estado, diante dessa tragédia anunciada. Aliás, tragédia anunciada, é crime. Em 2017, uma consultoria finalizou um Plano de Prevenção de Desastres, que nunca saiu do papel integralmente. Dois anos depois, outra consultoria entregou uma proposta de Zoneamento Ecológico Econômico para salvar vidas e o meio ambiente. Nada foi feito.
O governador do Estado flexibilizou regras ambientais para construção de barragens em áreas de preservação ambiental, para agradar o agronegócio local. Eduardo Leite cortou ou alterou quase 500 pontos do Código Ambiental do RS em 2019. De acordo com o portal UOL. a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real na prevenção de enchentes em 2023. O departamento que cuida da área teve lucro de R$ 428,9 milhões. O portal procurou a assessoria do prefeito Sebastião Melo (MDB), mas ela não se manifestou. “O orçamento tem um item chamado “Melhoria no sistema contra cheias”, que recebeu zero recurso ano passado”, de acordo com o Portal da Transparência de Porto Alegre.
Só para ter noção do restante da “boiada” que irá passar pela pauta ambiental no Congresso, o deputado Lucas Redecker (PSDB/RS) é relator de projeto de lei que autoriza o desmatamento em 48 milhões de hectares de áreas florestais nativas. De acordo com a Juliana Del Piva, “os deputados federais e senadores do Rio Grande do Sul no Congresso destinaram quase R$ 1,6 bilhão em emendas individuais e de bancada para o estado em 2024, fazendo 408 aportes diferentes.” Destes aportes, apenas 4 foram destinados à prevenção de desastres, totalizando R$ 2,5 milhões. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) fez duas emendas, num total de R$ 1,7 milhão, para a elaboração de projetos de prevenção à erosão costeira e para gestão socioambiental. Maria do Rosário (PT-RS) e Reginete Bispo (PT-RS) disponibilizaram, respectivamente, R$ 500 mil e R$ 300 mil para ações de educação ambiental. Agora, com uma capital submersa, com cidades inteiras destruídas, vocês ainda acreditam que não é hora de falar sobre política?
Pra piorar, ainda existe uma máquina de fakenews e de golpistas, tentando faturar diante da tragédia. Uma gente mesquinha e ignorante, usando a maior tragédia do sul do país, pra ganhar dinheiro e engajamento em redes sociais. Gente apodrecida.
O Estado do Rio Grande Sul precisará ser reconstruído, com o esforço de todos os gauchos e a ajuda do restante do Brasil. A solidariedade é fundamental nessa reconstrução. Mas espero, sinceramente, que nesse recomeço, possamos tirar um aprendizado contínuo das necessidades de se cuidar do meio ambiente e do meio político. Porque o segundo, está destruindo o primeiro. E se nada for feito rapidamente, ano que vem o governador Eduardo Leite poderá se surpreender, pelo terceiro ano consecutivo, com desastres naturais.
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