Chegamos ao 200º dia do ano, em uma semana onde os animais foram os protagonistas, seja literal ou metaforicamente. E entre os melhores enredos estão: Bolsonaro tentou alimentar as emas que vivem no Palácio da Alvorada e foi bicado duas vezes, em diferentes ocasiões. Errar uma vez é humano (…). A polícia continua com as investigações sobre uma rede de traficantes de animais selvagens, e o personagem clímax da situação, ‘o picado da naja’, já recebeu alta. Este não precisou errar duas vezes para continuar o ditado. Apesar de possíveis danos, os animais seguem bem até o momento.
Na continuação das interlocuções de animais-não-humanos e após quatro meses de quarentena, somamos cerca de 2 milhões de casos diagnosticados e quase 80 mil brasileiros mortos. Entre a dicotomia do isolamento versus economia, representada pela interiorização da doença e choros de empresários, algo tem que ser denotado: o pico da morte está modificando seu CEP, e mil e tantas mortes por COVID não sensibilizam mais.
Ao enumerar possíveis soluções, parte dos brasileiros optou por aquela que objetiva imunizar um “[s.m. grande número de animais da mesma espécie agrupados e controlados pelo homem]”, ou imunidade de rebanho, a que prevê a perda de milhares de vidas no Brasil. Em minha mais profunda essência, quero acreditar que essa ideia será refutada a partir do conhecimento, logo quero lhes contar uma história:
João morava em uma pequena comunidade, onde todos eram azuis. Em um dia, durante o inverno, ventos trouxeram um pó, e mais que inesperadamente, uma pessoa ficou parcialmente amarela. Outra, que estava em contato, ficou totalmente amarela imediatamente e preocupou a todos, afinal o azul era a cor que trazia tranquilidade e esperança aquela comunidade. No outro dia uma criança ficou verde, sua irmã adolescente ficou azul desbotada e a avó delas findou a sua vida, bem amarelada. E João e outro amigo seguiam azuis, e tentando entender o porquê que tantos tinham tons de amarelo. A João, era tudo muito triste, quando soube que tantas pessoas da sua comunidade tinham mudado de cor. Até que uma delas, cuja estava parcialmente verde, deu à luz a uma criança azul, e outros que tinham mudado de cor, haviam retornado a cor original, e ninguém mais mudou de cor… e isso trouxe novamente a esperança a João, pois o mundo dele voltou a ser azul, apesar das tantas vidas que foram acometidas e ele nada pode fazer. A felicidade dele era ver que ninguém mais tinha mudado de cor e novo vento não havia chegado.
Esta é a imunidade de rebanho, ou coletiva, aquela que se torna eficaz quando a resposta do sistema imunológico da maioria impede ou reduz a propagação de qualquer doença. Contudo, nem todas as doenças alcançam esta resposta, pois o sistema imunológico pode não impedir a infecção, ou não decorrer em gerações adaptadas, ou não manter os indivíduos protegidos. Mas, no momento, a pergunta mais pertinente é (já que não temos respostas): quanto do seu rebanho pode ser perdido ou ferido? Você está a fim de arriscar a ser o animal que fica totalmente amarelo? Ou que deixa os outros verdes e amarelos, e não tem tempo para se quer ter filhos azuis?
Seja você o peixe azul, o jacaré verde ou o leão amarelo. Seja você quem for, apenas saiba que fazer parte da massa de animais que são controlados por um homem não é uma opção tão simples. Não precisamos ser um povo marcado de cores, para sermos um povo feliz.
Imagem: Dor Crônica – O Blog