Conhecido por sua obra assistencial e pastoral junto a população de rua e outros vulneráveis, o Padre Júlio Lancelotti foi alvo da proposição de uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo. O propositor do requerimento que cria a Comissão é o vereador Rubinho Nunes (União Brasil),um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL). Diante da repercussão do acontecimento, alguns edis ligados ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) retiraram suas assinaturas e alegaram que foram enganados pelo edil do MBL.
O caso criou uma comoção nacional e a adesão de alguns religiosos serios e setores da opinião pública ao trabalho do sacerdote, que atua a mais de 30 anos com este segmento tão relegado por parte do poder público uma vez que o Brasil, sobretudo a cidade de São Paulo, tem assistido a um aumento progressivo da pobreza nos ultimos anos, bem como desta população que, por diversas razões justificaveis, tem adotado a rua como a sua morada.
Ao tentar emplacar uma ação contra ONGs que atuam na assistência à população de rua, o vereador Rubinho, certamente, teve como propósito acertar o seu alvo no padre, que,por vezes, denunciou atos de aporofobia (preconceito aos pobres) em suas redes sociais. Aliás, vale lembrar que o seu trabalho sacerdotal sempre foi marcado por todos os tipos de perseguição implacável partindo de grupos reacionários, que lançam a hipocrisia como uma bala de prata prestes a atingir um trabalho pastoral que tem amenizado a dor daqueles que passam fome, que não tem acesso a meios de higiene entre outros fatores que deveriam proporcionar uma vida digna ao indivíduo.
Diante da atitude do parlamentar paulistano do MBL, é preciso analisar e perceber que estamos muito longe de atingirmos a evolução moral. A atitude de generalizar pessoas e sacerdotes é colocar na vala moral,algo comum entre os segmentos ligados à extrema-direita que, com certeza, sacrificariam Jesus Cristo, que seria cancelado por “praticar o bem” nos dias de hoje.
Diante dos avanços tecnológicos dos últimos anos e das formas de trabalho que a pandemia nos legou, vivemos uma falta de percepção moral, um colapso de humanidade, onde não nos percebemos como humanos, da falta de humanismo nas nossas relações, onde o exercício da empatia é uma mera folha em branco. O ato de criar uma CPI, cujo o principal objetivo é julgar um religioso que faz o bem, vai de encontro com a lógica de qualquer civilidade, o que mostra a interpretação do que é caridade para segmentos conservadores, sobretudo aqueles ligados ao neopetencostalismo e, até mesmo, setores católicos reacionários, como o opus dei.
Para finalizar a conversa, a CPI contra as ONGs e o Padre Júlio Lancelotti revela interesses políticos e, para além disso, reforça a lógica de grupos extremistas e conservadores que ostenta uma retórica hipócrita, pautada em uma caridade seletiva, maquiagem para relegar uma humanidade sincera e pano de fundo para cobrir uma aversão a pobreza. Na contramão disso tudo, pessoas agem sem alardear, propagandear o ato verdadeiro e sentido de “ajudar o proximo”. Essas pessoas, infelizmente, ainda serão vistas de lado ou perseguidas, algo que já foi visto nos registros bíblicos. Lamentavelmente, isso mostra o quanto não estamos distantes da época cristã,onde a opressão, a tirania e a barbárie ainda reinavam.
Diante disso, caro leitor, lhes pergunto: Nos dias de hoje, fazer o bem é pecado???