Meus caros, a tudo que lhes escrevo aqui, saibam que conjugo a todas inseguranças e temeridades. Neste momento, invejo os animais que vivem sem ter a necessidade de planejar o futuro. Às vezes, ler as notícias faz com que eu deseje que a COVID-19 seja o nosso único e grande problema. Contudo, não posso deixar de enaltecer este dia. Viva o meio ambiente! O dia decretado pela ONU para repensarmos sobre a natureza, e redundantemente, pensarmos em nós. Sim, porque precisamos de data para lembrarmos… ou pior, nem com data no calendário isto é lembrado.

Para tecer meu comentário sobre este dia no país que “tem palmeiras onde canta o sabiá”, preciso voltar um instante no tempo… Durante a campanha do atual governo, fomos apresentados a um plano político que declamava sobre a união dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Para muitos, como eu, profissional da área de ciências agrárias, isto era alarmante e insano. Após grande repercussão e como “remediação”, foi apresentado o Sr. Ricardo Salles, como líder da pasta do Meio Ambiente, que havia sido acusado, um pouco antes de assumir o mandato, de improbidades fiscais. Outro componente do “plantel do atual governo” é a Sra. Tereza Cristina Dias, líder da pasta da Agricultura e representante da bancada RURALISTA, que defende a dicotomia entre economia versus preservação ambiental. Convenhamos, meus caros, neste placar, vocês se surpreendem com mais alguma novidade?

Segue o barco… episódios trágicos estão sendo abstraídos (esquecidos mesmo) e minha eterna inquietação precisa salientar que, mesmo entre tantas mazelas, o alvo da comemoração do dia 05/06 não pode ser escanteado. Para isto, vamos rememorar alguns episódios: a extensa queimada na Amazônia em 2019 (e que continua…), o “dia do fogo” (recomendo a leitura sobre o assunto), a tentativa de interferência de famosos e outros países para ajudar no combate à destruição das nossas florestas (lembra do #prayforAmazonia?), o dia do céu negro em São Paulo devido às queimadas, o desmonte do INPE, a dizimação dos povos indígenas, o avanço da absurda MP, cujo Presidente transfere para o Ministério da Agricultura a identificação, delimitação, reconhecimento e demarcação das Terras Indígenas, além do avanço das grilagens e das monoculturas….

E em meio a milhares de mortos, a reunião ministerial em 22/04, dia do famigerado “descobrimento do Brasil” (se eu fosse a natureza, eu detestaria este dia), onde em fala emblemática, mas tão rapidamente tirada de pauta ou até encoberta das manchetes das grandes mídias, o excelentíssimo Ministro do Meio Ambiente afirma que “a boiada tem que passar”. E ela tem passado, o agronegócio não parou com a pandemia, milhares de quilos de grãos e carne têm sido produzidos e mantidos a engrenagem da economia ativa… chega a ser romântico, né? Afinal, o agro é pop. Convido-lhe à inquietação com meu questionamento: a preço de quê? Isto para não narrar toda minha crítica sobre como o “agrocapitalismo” é um dos corresponsáveis por condições de declínio da Saúde Única e combustível para doenças que circundam animais e humanos, a exemplo da própria COVID-19.

Seria cômico, mas é trágico perceber que uma música de 1979, composta brilhantemente por Alceu Valença e Zé Ramalho, é tão atual e enfática. Afinal, fazemos parte de uma massa, marcada, que foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela. Espero só que a única velhice que tiver que chegar não seja a que sobrou da vida de gado.

 

Foto: www.dominiorural.com

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