Ultimamente tem sido cansativo entrar na Internet e ver que as redes sociais se tornou o espaço para expor o pior que o ser humano pode oferecer, mas não é qualquer pior. É aquele pior, que é melhor para os algoritmos, eivado do mais requentado discurso de ódio, que retroalimenta as bolhas da zona de conforto, causando assim um apartheid digital. Aliás, já estamos vivendo este fenômeno, que marcou de forma negativa a sociedade sul-africana na metade do século passado, só que, para os dias de hoje, a leitura deste movimento segregador envolve a forma como usamos e lidamos com a tecnologia em seus formatos no espaço virtual, que precisa, de forma urgente, ser regulado.

Vivemos apartados em bolhas de proteção e postamos as nossas dores e sentimentos no sentido de sermos notados pelos nossos ou por quem passou por situações semelhantes. Transformamos o que sentimos em palco para formar escudos, pois estamos em uma guerra sem armas físicas, que não foi declarada por ninguém, mas está decifrada em indiretas postadas caracter por caracter em poucos toques de tela. O mundo da internet é um teatro sem lei para os lacradores, que usam do seu ativismo nonsense para invalidar o outro, tirar dele a necessidade de ser cidadão e aí vale colocar na berlinda a forma como lidamos com quem pensa e age diferente, com quem erra e comete deslizes.

O espaço virtual pode ser considerado, em uma leitura atual, um lugar comum, que revela o nosso momento e os dilemas entre a idade média e um mundo contemporâneo demais para inúmeros julgamentos. A verdade é que esse pedacinho de simulacro , reinado pela linguagem dos bits e bytes, absorveu a crueldade dos nossos atos e se tornou o pelourinho dos algoritmos, um espaço de cancelamentos, insensibilidades e incompreensões com inúmeros fragmentos de nós em formatos distorcidos.

Do outro lado da tela, vemos fragmentos do outro, que apresenta dores e delicias de forma superficial. Julgamos com réguas de medição subjetivas e colocamos o outro nas nossas caixinhas de idealizações, onde existem heróis e inimigos, mocinhos e bandidos. É assim na política, e nos realities shows, procuramos os vilões no outro, na projeção do que existe de pior em nós. Assim o mundo atual se apresenta, tão caótico e complicado de entender, com dores e delicias inerentes a todo mundo, onde o pior de nós ganha os refletores e a ribalta de um lugar sem lei, atraindo uma plateia avida a consumir este tipo de conteúdo como urubus disputando a carniça em putrefação. Dessa forma, caminhamos em mais um capitulo da Idade Mídia onde titulo pode se denominar “O pior dos mundos”.

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