Na última quarta-feira (25), o mundo chorou espantado. A morte de Diego Armando Maradona nos pegou de surpresa em meio ao desjejum do almoço. Poderia ser qualquer óbito, mas era o falecimento de um dos melhores (ou seria o melhor) jogadores de todos os tempos. Em vida, Dom Diego sempre tratou a bola e a sua nação como se fossem as extensões de seu coração, vivendo com intensidade as emoções e as angústias de ser um argentino, um latinoamericano e defender essas condições com sua arte.
Canhoto e progressista, ele sempre jogava com a esquerda, para alguns o lado certo da história. E era com a paixão que o dez alviceleste despertava outras paixões e rivalidades. Era muito fácil amar e odiar Maradona, seja por seu gênio forte, ou então por seus posicionamentos, sempre trombando de frente com Deus e o mundo, lutando pelo que é justo e bom, assim como Olga Benário, Che e Fidel.
Maradona driblou muitos adversários dentro de campo, mas foi marcado, acossado, por todos os lados, nas suas fraquezas, naquilo que lhe era mais caro. O vício nas drogas, mais precisamente a cocaína, foi um de seus rivais mais implacáveis. Do pó para o álcool, as internações seguidas foram jogadas ensaiadas com a morte.
Idealista das quatro linhas
Para além da genialidade com a bola nos pés, Maradona fez parte de uma geração idealista que lutou por democracia nas quatro linhas, mas que foi derrotada pelas fraquezas do álcool e das drogas. Juntamente com Sócrates e Casagrande, Diego sempre deu a cara a tapa e se posicionou, nunca escondendo os seus ídolos como o hermano Che Guevara e o líder cubano Fidel Castro, figuras estampadas na pele e nas atitudes do grande ídolo dos argentinos.
Maradona sempre marcou posição, fidelizando sempre com os seus os ideais, com o que acreditava no mundo. Por considerar as suas origens, sempre esteve consciente dos problemas enfrentados pelas populações dos países da América Latina e isso o tornou mais ídolo, diferente daqueles que driblam no campo, mas que sucumbem aos prazeres fáceis. El Pibe sempre viveu de acordo com os seus princípios, ideais que o fizeram ser honesto até mesmo com os seus deslizes e assumiu, dessa forma, a postura de um “Deus Humano” ou daquele que é o “Mais Humano dos Deuses”. Este foi um jogador que sempre colocou, no bico das suas chuteiras, a soberania de um povo que sofre com as desigualdades, resquícios do nosso passado de colonização e subordinação..
Imortal
A partir de agora, para além do sol presente na bandeira alviceleste, Maradona é uma grande estrela. Um Deus para os argentinos, um gênio para o futebol e um mito para o mundo, que ainda está atônito com a passagem, para o panteão dos boleiros, deste grande ídolo que resolveu, na bola, as mágoas de uma guerra em terras mexicanas, lavando a alma de uma nação. Um cidadão que dividiu uma cidade na Itália e respondeu às vaias com um xingamento no meio de um hino. Para além de suas controvérsias, Maradona será sempre o drible perfeito, a mão de Deus por sobre a linha imortal de um “Deus Sujo”, de uma divindade humana, um anjo que brincava em ser homem e tomou uma rasteira fatal para o coração.
Para quem o viu jogar, Maradona é tudo o que se pode imaginar. É o retrato do que é o argentino, a personificação de uma latinidade intensa. É paixão e ódio no mesmo lugar, é a luta do amor com a razão. Mais do que apenas ser um jogador de futebol, um ser diferenciado.