“A educação nova, alargando sua finalidade para além dos limites das classes, assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando-se para formar a hierarquia democrática pela ‘hierarquia das capacidades’, recrutadas em todos os grupos sociais, a que se abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, organizar e desenvolver os meios de ação durável com o fim de dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu crescimento, de acordo com uma certa concepção de mundo.”
Essa citação acima, data de 1932. Isso mesmo, 1932. Essa é uma pequena parte do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” ou podemos chamar de Movimento Escola novista.
Possivelmente, o nome mais importante desse movimento seja o de Anísio Teixeira. Ele defendia a ideia de uma educação integral, de uma educação para todos, defendendo arduamente o ensino público, gratuito, laico e obrigatório, sem privilegiar algumas classes em detrimento de outras.
La se vão mais de 80 anos e ainda continuamos a debater essas questões no campo educacional, além de outras que ganharam espaço como inclusão, relações étnicos raciais, bullying, gênero e outras mais. O problema maior é que o debate ocorre por essas questões (já discutidas na década de 1930) não terem sido resolvidas até hoje.
Há 1 ano e meio, convivemos com um novo (será mesmo novo?) governo. E essas questões tomaram ainda mais corpo. Isso por dois motivos básicos: 1. O senhor presidente (já sei o que vão dizer sobre o P minúsculo) não tem um projeto educacional e, 2. O que se apresentou até agora, surge como um grande retrocesso.
O governo surgiu com a ideia de escolas cívico militares. Nessas escolas, preza-se pela disciplina, rigor e obediência, apelando-se para uma educação conteudista, onde os alunos ouvem giram em torno do professor que é o centro do saber e do Universo. Isso não só é ultrapassado como é equivocado. E, como se isso já não bastasse, já se falou muito em rever os livros que são utilizados, revisando-se os livros de História e abrindo mão de questões como gênero, inclusão e lgbtfobia.
A falta de projeto ainda fica mais escancarada quando não se consegue colocar um novo Ministro de Educação. Os Olavistas, juntos com “as filhinhos”, não aceitam um que não seja da turminha deles. Fico imaginando como eles dirão nas escolas agora, que a Terra é plana. Coloco a situação em tom de brincadeira, mas é muito preocupante.
Essa falta de projetos na área educacional, é fruto de uma classe que representa o lobby das escolas particulares e, assim sendo, representa a exclusão de grande parte da população do acesso à educação. Isso garante a elitização cada vez maior das escolas, tornando a educação uma mercadoria que só poderá ser consumida por uma parcela cada vez menor da população.
E, nesse momento, retornamos a meados do século XX. A escola tinha mais qualidade do que se tem hoje, é verdade. Porém, chegava a uma parcela reduzida da população. Nas cidades do interior, muito menos. Uma educação que não pensava numa sociedade laica, que enaltecia as diferenças para segregar. Que não levava em consideração, a cultura negra, das comunidades indígenas, que não pensava na forma singular de vida das comunidades ciganas e, muito menos, pensava em autismo, síndrome de down, paralisia cerebral, surdez, cegueira, em cadeirantes.
Sei que isso não se deu apenas nesse período. Ainda precisamos avançar muitíssimo em educação. Em pensar uma educação para agregar e incluir os que sempre foram alijados desse direito. Mas, aos poucos, a sociedade brasileira avançava nesse aspecto. Entretanto, o que se mostra agora, é uma medusa que pode transformar nossas escolas em pedra, no sentido de enrijece-las no tempo e no espaço.
Espero que tenhamos força para nos levantarmos e trazemos não só Anísio Teixeira à tona, mas trazer também Milton Santos, Conceição Evaristo, Demerval Saviani, Paulo Freire, Emília Ferreiro, Djamila Ribeiro, Nilma Lino Gomes, Leandro Karnal, Kabengele Munanga, dentre outros tantos nomes, educadores ou não, mas que podem contribuir para reforma, ampliação e criação de um sistema educacional que privilegie as classes mais pobres da população. E, como diria Mestre Paulo Freire, a construção de uma educação que valorize “consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”. E Viva a Educação como arma para a liberdade!